segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Que bravura há em destruir?

Havia um homem praticamente louco, um louco assassino. Ele fez o juramento de que mataria mil pessoas, e não menos do que isso, por que a sociedade não o tratava bem. Ele se vingaria matando mil pessoas, e de cada pessoa assassinada ele tiraria um dedo e faria um rosário de dedos em volta do pescoço, um rosário de mil dedos.

Ele matou 999 pessoas. Ninguém ia para onde ele estava; quando as pessoas ficavam sabendo onde ele estava, o tráfego deixava de ir para aquela direção. E assim ficou muito difícil para ele encontrar uma pessoa, e apenas mais uma pessoa era necessária.

Buda estava seguindo na direção de uma floresta, mas pessoas da vila se aproximaram dele e disseram: "Não vá! Angulimala está lá, aquele louco assassino! Ele não pensa duas vezes e simplesmente mata, e ele não levará em consideração o fato de que você é um buda. Não vá por esse caminho; há outro caminho e você pode ir por ele, mas não passe por essa floresta!"

Buda replicou: "Se eu não for, quem irá? E ele está esperando por mais um, então preciso ir."

Angulimala tinha quase cumprido seu juramento e era um homem cheio de energia, porque estava lutando contra toda a sociedade. Ele matou sozinho quase mil pessoas. Reis tinham medo dele, generais tinham medo, o governo, a justiça, os policiais... ninguém podia fazer nada. Mas Buda disse: "Ele é uma pessoa e precisa de mim. Preciso correr o risco: ou ele me matará ou eu o matarei."

É isto que os Budas fazem: arriscam a própria vida. Buda foi, e mesmo os discípulos mais íntimos que juraram permanecer com ele até o final começaram a ficar para trás, pois era perigoso! Assim, quando Buda chegou à colina onde Angulimala estava sentado sobre uma pedra, não havia ninguém atrás dele; ele estava sozinho, pois todos os discípulos haviam desaparecido. Angulimala olhou para aquele homem inocente como uma criança, tão belo, e pensou que mesmo um assassino sentia compaixão por ele. Ele imaginou: "Esse homem parece não saber que estou aqui, porque ninguém vem por esse caminho". E o homem parecia tão inocente, tão belo, que até mesmo Angulimala pensou: "É melhor não matar esse homem. Eu o deixarei ir; posso encontrar outra pessoa.

Então ele disse a Buda: "Volte! Pare aí mesmo e volte! Não dê mais nenhum passo! Sou Angulimala, e aqui estão 999 dedos; só preciso de mais um, e mesmo se minha mãe vier, eu a matarei e cumprirei meu juramento! Então não se aproxime, sou perigoso! E não acredito em religião, não importa quem você é. Você pode ser um monge muito bom, talvez um grande santo, mas não me importo! Eu me importo só com o dedo, e seu dedo é tão bom quanto o de qualquer outra pessoa; então não se aproxime nem mais um passo, senão o matarei. Pare!" Mas Buda continuou a se aproximar.

Então Angulimala pensou: "ou esse homem é surdo ou é louco!" De novo ele gritou: "Pare! Não se mova!"

Buda disse: "Eu parei há muito tempo, não estou me movendo, Angulimala, você é que está. Parei há muito tempo; todos os movimentos cessaram, porque toda a motivação cessou. Quando não há motivação, como o movimento pode acontecer? Não há objetivo para mim, eu atingi o objetivo; então por que eu deveria me mover? Você é que está se movendo, e lhe digo: pare você!"

Angulimala estava sentado sobre uma pedra e começou a rir; ele disse: "Você é realmente louco! Estou sentado, e você está me dizendo que estou me movendo. E você está  se movendo e diz que está parado. Você realmente é um tolo, um louco ou alguém muito estranho!"

Buda chegou perto e disse: "Ouvi dizer que você precisa de mais um dedo. No que se refere a este corpo, meu objetivo foi alcançado; este corpo é inútil. Quando eu morrer, as pessoas o queimarão e ele não terá utilidade para ninguém. Você poderá usá-lo, seu juramento pode ser cumprido: corte meu dedo e corte minha cabeça. Vim de propósito, porque essa é a última chance para meu corpo ser usado de alguma maneira; do contrário, as pessoas o queimarão".

Angulimala disse: "O que você está dizendo? Eu achava que era o único doido por aqui. E não tente ser esperto, porque sou perigoso e ainda posso matá-lo."
 
Buda disse: "Antes de me matar, faça uma coisa. Satisfaça o desejo de um homem que está para morrer: corte um galho desta árvore." E Angulimala deu um golpe na árvore com a espada e um grande galho caiu. Buda disse: "Apenas mais uma coisa: junte-o novamente à árvore!"

Angulimala disse: "Agora tenho certeza de que você é louco, pois posso cortar, mas não posso unir".
 
Então Buda começou a rir e disse: "Se você pode apenas destruir e não pode criar, não deveria destruir, pois qualquer criança pode destruir, não há nenhuma bravura nisso. Esse galho pode ser cortado por uma criança, mas para uní-lo é necessário um mestre. E se você nem pode unir novamente um galho a uma árvore, como pode cortar a cabeça de um ser humano? Você já pensou nisso?

(Trecho do Livro BUDA - Sua Vida, Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade - OSHO - Editora Cultrix)


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