quinta-feira, 24 de junho de 2010

São João/Xangô Menino


Ai, Xangô, Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino, Xangô
Da fogueira de São João

Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão

Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxóssi
Viva São João

Olha pro céu, meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho, Xangô
Canto tanto canto lindo

Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo, Xangô
Ai, São João, Xangô Menino

Viva São João
Viva Refazenda
Viva São João
Viva Dominguinhos
Viva São João
Viva qualquer coisa
Viva São João
Gal canta Caymmi
Viva São João
Pássaro proibido
Viva São João

(Composição: Caetano Veloso/Gilberto Gil)

São João

O Balão vai subindo
Vem vindo a garoa
O Céu é tão lindo
E a Noite é tão boa
São João, São João
Acende a fogueira do meu coração

Capelinha de Melão

Capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosa,
É de manjericão
São João está dormindo
Não acorda, não
Acordai, acordai,
Acordai, João!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Follow your destiny

Fernando Pessoa (1888 – 1935 Lisbon, Portugal)


Follow your destiny,
Water your plants,
Love your roses.
The rest is shadow
Of unknown trees.

Reality is always
More or less
Than what we want.
Only we are always
Equal to ourselves.

It’s good to live alone,
And noble and great
Always to live simply.
Leave pain on the altar
As an offering to the gods.

See life from a distance.
Never question it.
There’s nothing it can
Tell you. The answer
Lies beyond the Gods.

But quietly imitate
Olympus in your heart.
The gods are gods
Because they don’t think
About what they are.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Há tempo para tudo...

TUDO tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer e tempo de morrer;
Tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar e tempo de curar;
Tempo de derrubar e tempo de edificar;
Tempo de chorar e tempo de rir;
Tempo de prantear e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras;
Tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar e tempo de perder;
Tempo de guardar e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar e tempo de coser;
Tempo de estar calado e tempo de falar;
Tempo de amar e tempo de odiar;
Tempo de guerra e tempo de paz.
(Eclesiastes, 3)
Tempos difíceis os de aceitar a mudança de tempo, de aceitar que tudo é impermanente na vida, inclusive nosso estágio como encarnados.
Difícil aceitar a mudança do tempo de abraçar, por exemplo, para o tempo de afastar-se de abraçar. Como é difícil ficar longe, fisicamente, daqueles a quem amamos.
Difícil, também, aceitar o tempo de calar, quando gostaríamos de poder falar.
A análise desta passagem, ressalta a necessidade de tomarmos consciência que somos regidos, na verdade, pelas leis imutáveis de Deus e que uma delas regula o tempo certo das coisas.
Tudo acontece na hora e da forma certas e todos estamos onde deveríamos estar, mas como é difícil entender e aceitar isto.
Nos defrontamos a todo momento com situações extremas, chocantes até, quando uma espécie de "tsunami" invade nossas vidas, sem nos pedir licença e somos compelidos a assimilar estas situações e a prosseguir nossa caminhada, mesmo diante do impacto que nos causam. Como é difícil entender e aceitar a parte do Pai Nosso que diz: "seja feita a Vossa Vontade", entender que colhemos o que plantamos e que, não poderemos esperar a colheita de maçãs, se plantarmos cebolas e que se somos livres para plantarmos, não seremos livres no tempo da colheita que é determinada pelo tempo da semeadura.
Muito mais difícil, nestes tempos "tsunami" é manter a confiança no Criador de todas as coisas e ter a coragem de entregar a Deus aqueles a quem amamos, sem que nos seja permitido saber um detalhe sequer do que estão enfrentando.
Ter a coragem de prosseguir acreditando no amor e deixando para trás o medo, a tristeza, a dor e os sonhos que gostaríamos de ter concretizado, mas não tivemos tempo, pois era a hora do tempo "tsunami".
Acima de tudo, se faz necessário encarar (e perdoar) estas realidades tão duras que enfrentamos e entender que, na realidade, elas nada mais são do que pistas colocadas em nosso caminho, para apreendermos a verdade sobre nós mesmos e que cada um de nós somos professores uns dos outros nesta descoberta.

Agnes Sobbé



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fragilidade e Fortaleza

Viver imerso em um turbilhão de sentimentos sufocantes, na solidão, cercado de pessoas, assim como viver, tentando entender e administrar tantos conflitos interiores, tornam o ser humano fechado, introspectivo, egoísta e, de forma aparente, enquadrado em outros adjetivos não muito elevados.
Somos surpreendidos, com frequência, pela doença, pela morte de entes queridos e por tantos revezes, causadores de uma dor tão profunda na alma, que ficamos incapazes de pensar a respeito dela, que dirá de falar no assunto.
Além disso, o compartilhar de dores e tristezas pressupõe encontrarmos a tolerância de nossos irmãos com o sofrimento ou a caridade, que muitas vezes se resume em ouvir com amor.
Entretanto, o que mais encontramos pela frente são opiniões, conselhos, julgamentos e conclusões. Algumas delas, de uma precisão cirúrgica, outras, entretanto, veladas e afiadas, ferinas mesmo, mais parecendo uma condenação proferida por algum tribunal de exceção.
Todos parecem ter uma receita perfeita para superação de momentos difíceis, nós é que "teimamos" em não ouví-los. Faça como eu! Dizem alguns. Eu faria diferente, dizem outros!Apreende-se, entretanto, com o passar dos anos, que por detrás de tantas impropriedades ditas e praticadas com a maior naturalidade, atrás de tantas palavras e atos, que parecem ser o que não são, encontramos, na maioria das vezes, seres humanos em conflito por causa de alguma fragilidade, ou do que entendem ser fragilidade.
Apreende-se, também, que os mesmos males que nos afligem, afligem os nossos companheiros de jornada, só que muitas vezes com sintomas diferentes. Quem nunca foi vítima de preconceito, orgulho ou prepotência? Quem nunca foi preconceituoso, orgulhoso ou prepotente?
A verdade que se escancara diante de nossos olhos, é que nos tornamos frágeis, justamente por não enfrentarmos nossas fragilidades, com a tranquilidade de quem sabe que todos somos iguais e que todos teremos que subir os mesmos degraus da evolução humana, porque Deus é justo e perfeito.
O que nos torna frágeis, é acreditarmos que poderemos parecer fortes, sem que o sejamos de verdade.
O que nos torna frágeis, é acreditarmos que somos superiores, quando abençoados pela abundância, seja material, intelectual ou moral, pois se recebemos este patrimônio, alguma missão temos a cumprir. (A quem muito foi dado, muito será pedido).
A nossa fragilidade se revela de forma incontestável, ainda, quando abençoados pela abundância, acreditamos que somos iguais, ou até superiores a Deus, detentores de poder ilimitado, inclusive, sobre os destinos alheios.
A verdadeira superioridade, entretanto, não convive de forma passiva, letárgica até, com as misérias intelectuais, morais ou materiais, pois neste caso não estamos diante de seres superiores, mas de egoístas e orgulhosos, que imaginam ser beneficiários de vantagens, somente para seu deleite intelectual, moral ou material, sem qualquer compromisso que não seja com eles mesmos.
Sem nenhum medo de parecer ignorante ou obcecada pela religião, sempre busquei auxílio para enfrentar as situações da vida, no Evangelho ou na Bíblia e me lembro agora, de uma passagem da Segunda Epístola de Paulo Apóstolo aos Coríntios:

E disse-me (o Senhor): a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então sou forte. cap. 12, verss. 9 e 10.

Percebo, diante da magnitude moral destas palavras, é que tantas injúrias, perseguições e angústias, nada mais são do que a ausência do amor entre irmãos em Cristo.

O verdadeiro amor não é compatível com julgamentos, injúrias, orgulho, vaidade ou preconceitos. Se ainda agimos assim, e sem nenhum medo de parecer imperfeita, agimos, é porque ainda temos muito o que evoluir em amor e ainda não nos conscientizamos de que somos seres iguais, criados pelo amor e para o amor.

O verdadeiro amor, não se compatibiliza com falsos intelectualismos, pois sabe que estes são, na verdade, manifestações de orgulho e vaidade, nem com ostentações ou falsos moralismos, pelos mesmos motivos

Precisamos, na verdade, tomar consciência, o mais rápido possível, de que se estamos todos na mesma escola, para o mesmo aprendizado, não há doutores, mestres ou especialistas. Apenas, e tão somente, aprendizes da Grande Obra de Deus.

Agnes Sobbé


terça-feira, 8 de junho de 2010

A Miséria já teve a sua função Social

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo
Falar da miséria nos alivia porque para nós, os bacanas, a miséria é apenas um problema existencial. Muitos artistas e intelectuais que falam na miséria como tema de livro ou filme, ou políticos que usam a miséria como curral eleitoral, ganham dinheiro ou votos com a miséria dos outros. Ou seja, a miséria dá lucro.


Na verdade, para entendermos o horror que nos envolve, temos de analisar os que "não" são miseráveis, a burguesia, as classes médias, a estrutura do País, a formação torta do Estado. Quem quiser fazer uma tese ou ficção sobre o atraso nacional tem de estudar os "formadores" da miséria ? os séculos de oligarquias e patrimonialismo. Um estudo psicológico sobres alguns de nossos principais líderes políticos explicaria mais o País do que cem volumes economicistas. Nós fazemos parte da miséria brasileira. Em nós, e não nos morros e periferias, está o segredo, ou melhor, a explicação para a ignorância e o desabrigo de nosso povo.

A miséria de nossa formação não atingiu apenas os escravos libertos, os subempregados, os analfabetos. A miséria atingiu a todos nós. Não na blindagem de nossos carros apavorados, mas na blindagem de nossos corações contra o lado de fora da vida. Não basta sofrermos com o "absurdo" da miséria. Ela é uma construção minuciosa feita por um sistema complexo. A miséria não é absurda; ela é uma produção.

Há alguns anos, a miséria era vista com vagos sentimentos caridosos. Ela era até idílica, nas "favelas dos meus amores". Tolerávamos tristemente a miséria, desde que ela ficasse longe, quieta, sem interferir na santa paz de nosso escândalo. A miséria tinha quase uma... "função social".

Contra nossa vontade, hoje sabemos que a miséria se entranha em nosso egoísmo, na busca maníaca de felicidade e prazer, esquecendo a existência do "outro" ? este ser longínquo e desagradável. Pouquíssimos de nós pensam como o imperador filosofo Marco Aurélio: "O que é bom para a abelha tem de ser bom para a colmeia."

Além disso, a miséria não está apenas naqueles que se lixam para ela, mas também nos que se acham seus "proprietários", que a consideram seu latifúndio ideológico.

Existe a política da miséria dentro da miséria de nossa política. Transformar a miséria em bandeira, sem entender o conjunto que nos inclui, usar a miséria para uma simplificação oportunista de "ricos e pobres", usar a miséria como um divisor de águas para a complexidade de nossos problemas é uma atitude miserável e resulta nos vexames a que temos assistido neste governo, que tem o alívio hipócrita de ser "contra" ela ? isso justificou roubalheiras, crimes e mentiras, legitimou a invasão do Estado pelos "amigos" do povo, que fazem sucesso junto aos ignorantes que adulam na mídia da política virtual. Os pelegos sempre se disfarçaram de pobres.

A miséria está nos "sanguessugas", está nas emendas espertas ao orçamento, está na sordidez do sistema eleitoral, está na falsa compaixão dos populistas, está nas caras cínicas, torpes, "lombrosianas" dos ladrões congressistas, está na Lei arcaica e sem reformas, está na atitude olímpica e gelada de juristas impassíveis, está nos garotinhos na rua e nos garotinhos da política.

Mas o tempo passou e a miséria cresceu ? a espuma suja na champanha do progresso. Com o avanço da indústria de armas, das drogas, da internet, a miséria foi tocada pela evolução do capitalismo e começou a se modernizar. A violência é, de certa sinistra forma, um "upgrading" na miséria, antes tão dócil. A violência nos pegou de surpresa, com velhas armas. Ninguém sabe o que fazer. Antes, os governantes oscilavam entre a repressão sangrenta, entre a queima de favelas ou a construção de guetos. Mas, hoje, a miséria é grande demais para ser erradicada. Somos miseráveis porque poderíamos ter um país muito melhor e não sabemos fazê-lo. A miséria habita nosso egoísmo, nossa cegueira proposital em não ver o mal e a dor dos desvalidos.

É miserável nossa fome de consumo supérfluo, é miserável nossa angústia por pequenos problemas, nossas neuroses de mínimas causas, é miserável o que pagamos a empregados frágeis, é miserável nossa ideia de posse no amor e no sexo. Somos miseráveis porque até os ricos poderiam lucrar com a justiça social, mas eles só pensam a curto prazo; somos miseráveis na alma, em nossa amarga alegria, em nossa ignorância política, em terrores noturnos, em síndromes de pânico, em noites vazias nos bares ameaçados, nos perigos das esquinas, em amores despedaçados; a miséria está no esforço para esquecê-la, no narcisismo deslavado que aumenta entre as celebridades, na ridícula euforia das sacanagens e nas liberdades irrelevantes. A miséria está até na moda ? vejam este texto de um catálogo "fashion": "Use uma calça bacana, toda desgastada, bata na calça com martelo, dê uma ralada no asfalto, ou esfregue a calça com lixa, ou por fim, atropele seu jeans, passe por cima dele com o carro (blindado?). A moda pede peças puídas, como ficam depois de um ataque das traças ou baratas. E se você tem algo a dizer sobre a vida, diga com sua camiseta, nas estampas com frases no peito..."

Só que antes, só falava de miséria quem não era miserável; só falava em "fome" quem comia bem. Agora, os miseráveis nos olham e nos criticam.

Hoje, a miséria desfila nas ruas ameaçadoramente, de sandália, bermudas e corpo nu. Não se esconde pelos cantos mendigos. Nossas elites desatentas estão mais ligadas e percebem aos poucos que nós é que temos de nos reformar. Não tem mais jeito; a miséria tem de ser integrada a nossas vidas. Temos de conviver com ela, pois também somos miseráveis.

E mais: os miseráveis não esperam nada de nós ou dos governos. Estão indo à luta. Não resolveremos nada. Eles é que vão fazer isso. A miséria está nos modernizando.

(www.estadao.com.br )

terça-feira, 1 de junho de 2010

Exercício de Humildade

Homens, por que lamentais as calamidades que vós mesmos amontoastes sobre vossas cabeças? Menosprezastes a santa e divina moral do Cristo, não vos espanteis, pois, que a taça da iniquidade tenha transbordado de todas as partes.
A inquietação torna-se geral; a quem inculpá-la senão a vós que procurais incessantemente vos esmagar uns aos outros? Não podeis ser felizes sem benevolência mútua, e como a benevolência pode existir com o orgulho?
Por que tendes em tão grande estima aquilo que brilha e encanta aos olhos, antes daquilo que toca o coração? Por que o vício da opulência é o objeto de vossas adulações, quando não tendes senão um olhar de desdém para o verdadeiro mérito na obscuridade? Que um rico debochado, perdido de corpo e alma, se apresente em qualquer parte e todas as portas lhe são abertas, todos os olhares são para ele, enquanto que mal se digna conceder um cumprimento de proteção ao homem de bem que vive de seu trabalho. Quando a consideração que se concede às pessoas é medida pelo peso do ouro que possuem, ou pelo nome que ostentam que interesse podem elas ter de se corrigirem de seus defeitos?
Ocorreria diversamente se o vício dourado fosse fustigado pela opinião pública como o vício em andrajos; mas o orgulho é indulgente para com tudo que o lisonjeia. Século de cupidez e de dinheiro, dizeis. Sem dúvida, mas por que deixastes as necessidades materiais usurpar o bom senso e a razão? Por que cada um quer se elevar acima do seu irmão? Hoje, a sociedade sofre disso as consequências.
Não esqueçais que um tal estado de coisas é sempre um sinal de decadência moral. Quando o orgulho atinge os últimos limites, é indício de uma queda próxima, porque Deus pune sempre os soberbos. Se os deixa, algumas vezes, subir, é para lhes dar tempo de refletirem e de se emendarem sob os golpes que, de tempo em tempo, ele dá em seu orgulho para adverti-los; [...] Bispo de Argel - 1862.
(Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo VIII - Bem-Aventurados os Pobres de Espírito)
A nossa idéia de felicidade, ainda está, intrinsecamente, condicionada ao máximo de bem estar material que possamos alcançar em uma existência.
É como se viéssemos a este mundo, para usufruir todos os excessos materiais possíveis de serem alcançados por um encarnado, encerrando a nossa jornada de ganância, com a morte do corpo físico.
Buscamos, na realidade, o luxo, a riqueza, a ostentação e o poder, de forma tão intensa que desencarnamos e continuamos vivendo experiências junto com os encarnados, em razão desta forte ligação com a matéria.
Reencarnamos, ávidos pelos bens materiais e por tudo o que o dinheiro proporciona, sem suspeitar de onde vem nosso valor.
Não tomamos consciência de que somos espíritos em aprendizado neste Planeta, e que nossa vida não se iniciou no nascimento, nem terminará com a morte.
Também não percebemos que somos filhos de Deus, espíritos imortais e que pela dinâmica da vida, temporariamente, nos achamos investidos em um corpo físico, para apreender as lições do Cristo.
Desta forma, passamos a vida terrena dilapidando o patrimônio que nos foi confiado por Deus, experimentando todos os vícios que a nossa invigilância ainda permite, nos desviando da tarefa que viemos cumprir e perseguindo objetivos que passam longe da grandeza da criação de Deus.
Nos imaginamos investidos, inclusive, do poder de cobrar de Deus, melhores condições para a vida terrena, esquecendo que, por mais dinheiro que tenhamos, nada nos coloca sequer próximos a Ele, menos ainda, acima do Pai.
Com os cofres abarrotados e com todas as portas terrenas se abrindo diante de nós, dizemos que Deus nos ama, mas basta uma contrariedade, ao ideal de vida terrena e já nos achamos preteridos pela sorte e pela providência Divina.
Recebemos de Deus a inteligência, os ensinamentos do Cristo, um pai e uma mãe, que com todas as limitações que, eventualmente, tenham, concordaram em nos conceder a vida terrena, para que pudéssemos exercitar o amor.
Muitos de nós, ainda temos a benção de um lar seguro para o repouso, de uma família, de amigos, de trabalho, de saúde, de um meio ambiente saudável, de alimento, de recursos financeiros, mas nossa principal preocupação, não é com a gratidão ao Pai e com o cumprimento de nossa missão.
Reduzimos a nossa importância, ao montante existente em nossas contas bancárias, mas perdemos o tempo, nos queixando que Deus não nos dá importância. Não entendendo, por mais duramente que sejamos atingidos, que só o amor importa e é este que nos eleva, não o dinheiro ou os bens materiais.
Assim, guardamos ano após ano, um amontoado de itens inúteis, sob o pretexto de que poderemos precisar. Enquanto isso, nossos irmãos de jornada vão sucumbindo, moral e fisicamente, diante do frio, da fome e da falta de abrigo material e espiritual.
Não dedicamos aos necessitados, sequer o nosso supérfluo, que dirá um pouco do que, para nós, é necessário. Nos limitamos a conviver com a miséria material e espiritual, como se fosse um incômodo suportável, fingindo que ela não existe. Tudo isso, para que nada nos tire de nossos "berços esplêndidos".
Se o auxílio for uma palavra de conforto, então, somos, na maioria das vezes, os seres mais egoístas do Planeta, pois não dedicamos nem uma parte de nosso precioso tempo, a ouvir com amor, um irmão necessitado e, se possível, lhe proporcionar algum conforto.
Com o mesmo egoísmo, voltamos para nossos lares, ao final de cada dia, imaginando que desempenhamos, a contento do Criador de todas as coisas, a nossa missão. Certos de que as privações da vida terrena não são obstáculos criados para nós.
Mas Deus não trata desigualmente os iguais. Infinita, é sua Justiça.
Diferentemente de nós, encarnados, que nos achamos superiores uns aos outros, como se nunca tivéssemos cometido uma falta, ou nunca tivéssemos infringido Suas Leis.
Desta forma, terminamos por falir em nossas missões e por retardar, ainda mais, o nosso progresso espiritual, iludidos pelo poder que o dinheiro confere e, esquecidos de que, se Deus nos outorgou algum poder, não foi para esmagarmos com o nosso orgulho desmedido, nossos irmãos em Cristo.
Normalmente, não abala o nosso repouso, as duras provas a que estão submetidos nossos irmãos, muitos buscando o alimento do corpo, no lixo e bebendo para suportar as agruras morais e o frio que são obrigados a enfrentar.
As ilusões da matéria são muitas, mas o dia de hoje é o momento de plantarmos o que pretendemos colher amanhã. Assim, não poderemos ficar surpresos, quando sofrermos os chamados "golpes da sorte", pois Deus, que é infinitamente Justo e Bom, nos conferiu o livre arbítrio, para que pudéssemos optar, no dia de hoje, entre plantar de acordo com suas leis imutáveis, ou de acordo com o nosso orgulho, para que no futuro colhamos apenas aquilo que plantarmos.
Chegará o dia, apesar de tudo, em que despertaremos para aquilo que, efetivamente, viemos fazer neste Planeta, em que poderemos dizer com toda a humildade e amor possíveis: "Senhor, que seja sempre feita a Tua Vontade e não a nossa".
A partir de então, poderemos começar a colher mais bençãos do Pai e a nos aproximar da verdadeira felicidade.
Agnes Sobbé

A Parábola do Semeador - Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec

5 - Jesus, ao sair de casa, sentou-se à beira-mar, e uma grande multidão de pessoas reuniu-se ao seu redor. Assim, Ele subiu em um barco, e...