segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Mindfulness - Fatos comprovados

Em 2005, uma equipe liderada pela neurocientista Sara Lazar fez testes de ressonância magnética em um grupo dividido entre meditadores e não meditadores. Pela primeira vez, encontraram diferenças marcantes na estrutura física do cérebro dos dois perfis. Nos meditadores, o córtex pré-frontal tinha mais massa cinzenta, o que indica mais capacidade de memória e tomada de decisões. Além disso, os cinquentenários deste grupo pareciam ter 25 anos de acordo com suas imagens cerebrais. A conclusão foi que a contemplação pode mudar o formato do cérebro como um exercício de halteres muda um músculo. Mas ficou a dúvida: e se essas pessoas já tivessem nascido assim?
Em 2010, então, o laboratório dela fez uma nova pesquisa, dessa vez só com pessoas que nunca haviam meditado na vida. Ao longo de dois meses, metade seguiu sua rotina e a outra iniciou sessões de 40 minutos diários de técnicas de respiração e visualização. Quando as oito semanas acabaram, o hipocampo de quem meditou havia crescido. A área é importante para o aprendizado, a memória e a regulação das emoções e, como ocorre no caso do córtex, um volume maior indica melhora nas funções correspondentes. Mas esse não foi o único achado. A equipe de Lazar, que mantém um laboratório em Harvard, reparou também que uma parte no cérebro dos participantes estava menor.
A amígdala, responsável pela reação de sobrevivência, o clássico "luta ou fuga", havia perdido tamanho após o treino. Mais um bom resultado. Afinal, o acionamento excessivo dessa região gera ansiedade e pode levar a ataques de pânico.
Em 2013, um time de psicólogos da mesma universidade conformou que, além das mudanças neuronais, a meditação podia reforçar comportamentos positivos, como a compaixão. Eles dividiram o grupo entre os que fariam o curso de oito semanas e os que permaneceriam numa lista de espera. Ao final  desse tempo, convocaram todos de volta para um teste de memória, falso. O que observaram mesmo foi o comportamento na sala de espera, onde uma atriz entrava mancando com o pé engessado enquanto outros atores fingiam ignorar seu sofrimento. Aí veio a diferença. Das pessoas que não meditaram, apenas 18% se levantaram para dar o lugar. Entre as que passaram pelo mindfulness, o número foi de 50%. Três vezes mais gentileza.
A técnica também foi colocada à prova com um grupo de desempregados, uma turma naturalmente mais propensa ao stress. Uns meditaram, outros foram enganados com aulas de relaxamento cheias de distrações que quebravam a concentração. Quatro meses depois, o primeiro grupo mantinha índices melhores de bem-estar e saúde em geral.
E desde os anos 2000, psiquiatras tratam pacientes com depressão refratária, a que aparece várias vezes ao longo da vida, com o mindfulness. O médico Mark Williams, do Departamento de Psiquiatria de Oxford, na Inglaterra, foi um dos três responsáveis por mesclar tratamento a quem já teve três ou mais crises intensas. Era a MBCT (em inglês: "terapia cognitiva  baseada em mindfulness"). Nascia assim, mais uma sigla de sucesso: estudos mostraram que ela tem resultados tão bons quanto o uso de remédios. Hoje, o governo do Reino Unido a recomenda como primeira opção na prevenção de novas crises. Se lembrarmos do estudo de Sara Lazar, veremos a relação: pessoas deprimidas costumam ter o hipocampo menor, justamente uma das áreas que aumentam após a meditação.
Na prática manter-se no presente ajuda a combater a espiral de sintomas. Como todo mundo, quem já sofreu de depressão vai ficar triste de vez em quando. "O problema é que a pessoa logo pensa: 'está voltando'", diz a psicóloga Érika, que é coordenadora de pesquisa do Mente Aberta, um programa de extensão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que oferece treinamentos a pacientes do SUS. As sessões ocorrem numa sala de aula do campus Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Sob a luz branca, pacientes seguem as instruções para que observem o que estão sentindo. Às vezes, saem da sala em fila e caminham lentamente, um pouco até de olhos fechados, tentando prestar atenção nas sensações da sola do pé. Às vezes, apenas ficam concentrados contando respirações. Como todas as técnicas do mindfulness, parece um exercício ridículo para quem observa de longe. Mas, para quem o pratica, o hábito só traz vantagens. E pode mudar sua vida para melhor.

(Trecho da Revista Superinteressante - Edição 365 - setembro 2016)

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