Homens, por que lamentais as calamidades que vós mesmos amontoastes sobre vossas cabeças? Menosprezastes a santa e divina moral do Cristo, não vos espanteis, pois, que a taça da iniquidade tenha transbordado de todas as partes.
A inquietação torna-se geral; a quem inculpá-la senão a vós que procurais incessantemente vos esmagar uns aos outros? Não podeis ser felizes sem benevolência mútua, e como a benevolência pode existir com o orgulho?
Por que tendes em tão grande estima aquilo que brilha e encanta aos olhos, antes daquilo que toca o coração? Por que o vício da opulência é o objeto de vossas adulações, quando não tendes senão um olhar de desdém para o verdadeiro mérito na obscuridade? Que um rico debochado, perdido de corpo e alma, se apresente em qualquer parte e todas as portas lhe são abertas, todos os olhares são para ele, enquanto que mal se digna conceder um cumprimento de proteção ao homem de bem que vive de seu trabalho. Quando a consideração que se concede às pessoas é medida pelo peso do ouro que possuem, ou pelo nome que ostentam que interesse podem elas ter de se corrigirem de seus defeitos?
Ocorreria diversamente se o vício dourado fosse fustigado pela opinião pública como o vício em andrajos; mas o orgulho é indulgente para com tudo que o lisonjeia. Século de cupidez e de dinheiro, dizeis. Sem dúvida, mas por que deixastes as necessidades materiais usurpar o bom senso e a razão? Por que cada um quer se elevar acima do seu irmão? Hoje, a sociedade sofre disso as consequências.
Não esqueçais que um tal estado de coisas é sempre um sinal de decadência moral. Quando o orgulho atinge os últimos limites, é indício de uma queda próxima, porque Deus pune sempre os soberbos. Se os deixa, algumas vezes, subir, é para lhes dar tempo de refletirem e de se emendarem sob os golpes que, de tempo em tempo, ele dá em seu orgulho para adverti-los; [...] Bispo de Argel - 1862.
(Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo VIII - Bem-Aventurados os Pobres de Espírito)
A nossa idéia de felicidade, ainda está, intrinsecamente, condicionada ao máximo de bem estar material que possamos alcançar em uma existência.
É como se viéssemos a este mundo, para usufruir todos os excessos materiais possíveis de serem alcançados por um encarnado, encerrando a nossa jornada de ganância, com a morte do corpo físico.
Buscamos, na realidade, o luxo, a riqueza, a ostentação e o poder, de forma tão intensa que desencarnamos e continuamos vivendo experiências junto com os encarnados, em razão desta forte ligação com a matéria.
Reencarnamos, ávidos pelos bens materiais e por tudo o que o dinheiro proporciona, sem suspeitar de onde vem nosso valor.
Não tomamos consciência de que somos espíritos em aprendizado neste Planeta, e que nossa vida não se iniciou no nascimento, nem terminará com a morte.
Também não percebemos que somos filhos de Deus, espíritos imortais e que pela dinâmica da vida, temporariamente, nos achamos investidos em um corpo físico, para apreender as lições do Cristo.
Desta forma, passamos a vida terrena dilapidando o patrimônio que nos foi confiado por Deus, experimentando todos os vícios que a nossa invigilância ainda permite, nos desviando da tarefa que viemos cumprir e perseguindo objetivos que passam longe da grandeza da criação de Deus.
Nos imaginamos investidos, inclusive, do poder de cobrar de Deus, melhores condições para a vida terrena, esquecendo que, por mais dinheiro que tenhamos, nada nos coloca sequer próximos a Ele, menos ainda, acima do Pai.
Com os cofres abarrotados e com todas as portas terrenas se abrindo diante de nós, dizemos que Deus nos ama, mas basta uma contrariedade, ao ideal de vida terrena e já nos achamos preteridos pela sorte e pela providência Divina.
Recebemos de Deus a inteligência, os ensinamentos do Cristo, um pai e uma mãe, que com todas as limitações que, eventualmente, tenham, concordaram em nos conceder a vida terrena, para que pudéssemos exercitar o amor.
Muitos de nós, ainda temos a benção de um lar seguro para o repouso, de uma família, de amigos, de trabalho, de saúde, de um meio ambiente saudável, de alimento, de recursos financeiros, mas nossa principal preocupação, não é com a gratidão ao Pai e com o cumprimento de nossa missão.
Reduzimos a nossa importância, ao montante existente em nossas contas bancárias, mas perdemos o tempo, nos queixando que Deus não nos dá importância. Não entendendo, por mais duramente que sejamos atingidos, que só o amor importa e é este que nos eleva, não o dinheiro ou os bens materiais.
Assim, guardamos ano após ano, um amontoado de itens inúteis, sob o pretexto de que poderemos precisar. Enquanto isso, nossos irmãos de jornada vão sucumbindo, moral e fisicamente, diante do frio, da fome e da falta de abrigo material e espiritual.
Não dedicamos aos necessitados, sequer o nosso supérfluo, que dirá um pouco do que, para nós, é necessário. Nos limitamos a conviver com a miséria material e espiritual, como se fosse um incômodo suportável, fingindo que ela não existe. Tudo isso, para que nada nos tire de nossos "berços esplêndidos".
Se o auxílio for uma palavra de conforto, então, somos, na maioria das vezes, os seres mais egoístas do Planeta, pois não dedicamos nem uma parte de nosso precioso tempo, a ouvir com amor, um irmão necessitado e, se possível, lhe proporcionar algum conforto.
Com o mesmo egoísmo, voltamos para nossos lares, ao final de cada dia, imaginando que desempenhamos, a contento do Criador de todas as coisas, a nossa missão. Certos de que as privações da vida terrena não são obstáculos criados para nós.
Mas Deus não trata desigualmente os iguais. Infinita, é sua Justiça.
Diferentemente de nós, encarnados, que nos achamos superiores uns aos outros, como se nunca tivéssemos cometido uma falta, ou nunca tivéssemos infringido Suas Leis.
Desta forma, terminamos por falir em nossas missões e por retardar, ainda mais, o nosso progresso espiritual, iludidos pelo poder que o dinheiro confere e, esquecidos de que, se Deus nos outorgou algum poder, não foi para esmagarmos com o nosso orgulho desmedido, nossos irmãos em Cristo.
Normalmente, não abala o nosso repouso, as duras provas a que estão submetidos nossos irmãos, muitos buscando o alimento do corpo, no lixo e bebendo para suportar as agruras morais e o frio que são obrigados a enfrentar.
As ilusões da matéria são muitas, mas o dia de hoje é o momento de plantarmos o que pretendemos colher amanhã. Assim, não poderemos ficar surpresos, quando sofrermos os chamados "golpes da sorte", pois Deus, que é infinitamente Justo e Bom, nos conferiu o livre arbítrio, para que pudéssemos optar, no dia de hoje, entre plantar de acordo com suas leis imutáveis, ou de acordo com o nosso orgulho, para que no futuro colhamos apenas aquilo que plantarmos.
Chegará o dia, apesar de tudo, em que despertaremos para aquilo que, efetivamente, viemos fazer neste Planeta, em que poderemos dizer com toda a humildade e amor possíveis: "Senhor, que seja sempre feita a Tua Vontade e não a nossa".
A partir de então, poderemos começar a colher mais bençãos do Pai e a nos aproximar da verdadeira felicidade.
Agnes Sobbé