sexta-feira, 3 de julho de 2015

Espere pela clareza...

Buda está passando por uma floresta. É um dia quente de verão e ele está com sede; então pede a Ananda, seu guardião: "Ananda, volte. A uns cinco ou seis quilômetros daqui, passamos por um pequeno riacho. Leve minha cumbuca e traga um pouco de água para mim. Estou com muita sede e muito cansado."
Ananda volta, mas quando chega ao riacho, alguns carros de boi estão acabando de passar por ele e deixam todo o pequeno riacho cheio de lama; folhas mortas que repousavam no fundo do riacho estão boiando por toda parte. Não é mais possível beber a água, ela está muito suja. Ele volta com as mãos vazias e diz: "Você terá de esperar um pouco. Eu seguirei em frente, pois ouvi dizer que a apenas três ou quatro quilômetros há um grande rio. Trarei água de lá."
Mas Buda insiste: "Volte e traga a água daquele riacho."
Ananda não consegue entender a insistência, mas se o mestre diz, o discípulo precisa seguir. Ele vai, mesmo percebendo o absurdo daquilo: de novo ter de caminhar cinco a seis quilômetros e sabendo que a água não é boa para beber.
Quando ele está partindo, Buda diz: "E não volte se a água ainda estiver suja. Se ela estiver suja, simplesmente sente à margem em silêncio. Não faça nada, não entre no riacho. Sente-se tranquilamente à margem e observe. Mais cedo ou mais tarde a água ficará limpa de novo, e então encha a cumbuca e volte."
Ananda vai, e Buda está certo: a água está quase limpa, as folhas foram embora e a lama se assentou. Mas ela ainda não está absolutamente limpa, então ele se senta à margem observando o riacho fluir, e lentamente a água fica cristalina. Então ele volta dançando, entendo agora por que Buda fora tão insistente.
Havia uma certa mensagem para ele naquilo, e ele entendeu a mensagem. Ele dá a água a Buda, agradece-lhe e toca os seus pés.
Buda diz: "O que você está fazendo? Eu é que deveria lhe agradecer por ter trazido a água para mim."
Ananda diz: "Agora posso entender. Primeiro eu fiquei com raiva, embora não tivesse demonstrado, mas fiquei com raiva porque era um absurdo voltar. Contudo, agora entendo a mensagem. Aquilo era o que eu, na verdade, precisava naquele momento. O mesmo acontece com a minha mente; ao ficar sentado à margem daquele pequeno riacho, fiquei consciente de que o mesmo acontece com a minha mente. Se eu pular no riacho, novamente o deixarei sujo. Se eu mergulhar na mente, mais barulho será criado, mais problemas começarão a surgir, a aflorar. Ao ficar sentado ao lado do riacho, aprendi a técnica.
"Agora também ficarei sentado ao lado da minha mente, observando-a com todas as suas sujeiras, problemas, folhas mortas, mágoas, feridas, memórias, desejos. Sem me envolver, eu me sentarei à margem e esperarei pelo momento em que tudo estiver cristalino."

(Buda - Sua Vida, Seus Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade - Osho - Editora Cultrix)

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