“A Nação está em armas de Norte a Sul, já retalhada, ensangüentada, anseia por um igual que faça cessar a luta inglória, que faça voltar a paz”, escreveu o General Mena Barreto a Washington Luís, em uma carta que exigia a renúncia dele à Presidência.
O ar respirado naquela decadente República do Café com Leite era de traição e hostilidade. Os ventos da mudança, soprados de diferentes direções - Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul - estavam fortes a ponto de derrubar o castelo de cartas construído sobre os pilares do voto de cabresto, corrupção e alianças coronelistas, que caracterizaram tão bem os primeiros anos da República brasileira.
Em 24 de outubro de 1930, no Rio de Janeiro, o presidente Washington Luís sentiu na pele o peso da traição na sucessão presidencial e sofreu um duro golpe de estado, que culminou na instauração de uma Junta Militar e, ao fim do mês, o triunfo de Getúlio Vargas como presidente da nação.
O intuito do golpe era de impedir a posse de Júlio Prestes, Presidente eleito após um desrespeito da aliança política entre São Paulo e Minas Gerais. Como era costume em todos os primeiros anos da República, Minas e São Paulo (os mais férteis centros econômicos do país e que também possuíam o maior colégio eleitoral) se alternavam no poder: a cada eleição presidencial, um estado elegia um governante federal e o outro, seu vice.
Esta política era sustentada pelo coronelismo em escala regional: senhores de terra, coronéis em suas fazendas, conseguiam votos de todos os seus trabalhadores para determinado político que, por meio de troca de favores e jogos de influência, agradava ao chefe do eleitorado em alguma instância. Firmada a aliança, os votos - abertos e não universais - estavam garantidos.
O caso é que nesta eleição de 1930, Washington Luís deveria apoiar o candidato mineiro Antônio Carlos de Andrada, mas optou por lançar outro paulista à Presidência: Júlio Prestes. A cúpula política de Minas Gerais, traída, articulou um golpe com a do Rio Grande do Sul - cansado de ficar de fora do quadro federal - e a de Paraíba - cujo candidato à vice-presidente de Getúlio Vargas nas eleições de março, João Pessoa, tinha sido assassinado três meses antes.
O golpe, conhecido como Revolução de 30, modificou de vez a estrutura política da República brasileira ao colocar no poder um homem que, apesar de ter suspenso parcialmente a democracia durante 15 anos, permitiu que as bases do coronelismo fossem destruídas pela instauração do voto secreto. Tinha início a Era Vargas.
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