sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Cortiço

“Estalagem São Romão: Alugam-se casinhas e tinas
para lavadeiras.”
As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por
dia: tudo adiantado. O preço de cada tina, metendo água,
quinhentos réis, sabão à parte. As moradoras do cortiço
tinham preferência e não pagavam nada para lavar.
Graças à abundância da água que lá havia, como em
nenhuma outra parte, e graças ao muito espaço de que de dispunha
o cortiço para estender roupa, a concorrência às tinas
não se fez esperar; acudiram lavadeiras de todos os pontos
da cidade, entre elas algumas vindas de bem longe. […]
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia,
agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as
suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três
e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres
por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o
revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas
sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus,
cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem
lagos de metal branco.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade
quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar,
a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que
parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e
multiplicar-se como larvas no esterco. (p. 19-20)

(Trecho de "O Cortiço" de Aluísio Azevedo - A vida imita a arte ou a arte imita a vida, não sabemos ainda, como diria Agostinho Carrara)

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