segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Graças e Méritos

A vida é uma graça divina que não pode ser enquadrada em uma definição, sintetizada em uma lista de condições. E a vida plena vai ainda mais além; mais do que ter corpo saudável, mente perfeita, emoções em equilíbrio, sonhos e esperanças. A vida plena vai além do sopro. É uma conexão com o mais elevado, uma ligação com a própria fonte da vida.
Há uma fonte viva de onde emanam todas as coisas. Podemos nomeá-la como preferirmos, porém, em muitos momentos, percebemos a reverberação de suas ondas, a constância de sua presença, a luminosidade de sua condução. As graças que recebemos todos os dias estão ao nosso redor, percebamos ou não. O sol nasce, o planeta gira ao redor de seu eixo, a planta cresce, o oxigênio alimenta-nos, a criança se desenvolve, a vida segue e essa é a Grande Graça.
Uma graça, como o próprio nome diz, é algo que vem gratuitamente, sem que precisemos nos esforçar ou fazer qualquer trabalho para a recebermos. As graças estão disponíveis, presentes da vida que se dá de maneira igual a todos, independentemente do mérito, Então, para que serve o mérito? Por que se empenhar em ser bom, generoso, altruísta, solidário, compassivo?
Porque, apesar de as graças já estarem totalmente disponíveis, é preciso ter mérito para reconhecê-las. Mérito é o exercício de expansão da consciência de mundo que fazemos para ver e perceber as graças que já nos foram dadas. Quem não desenvolve méritos não consegue enxergar as graças que a vida oferece, e só enxerga "des-graça".
Graça é estar vivo, ter uma nova chance de se realizar todos os dias. Mérito é a condição de perceber isso e não desperdiçar essa chance. É tempo de aprender que a vida é uma dádiva e uma responsabilidade. Antigas tradições nos falam que poder e remédio são a mesma coisa. Todos viemos revelar uma medicina para o mundo, sermos plenos, entregarmos à vida nossos dons e aí também encontrarmos a fonte de todo o nosso poder. Ter as condições é a graça; compreendê-la e realizá-la dependem dos méritos.
O exercício maior da vida, portanto, não é o sucesso profissional, a realização financeira, constituir uma família feliz ou um patrimônio sólido. O maior exercício que podemos desenvolver é o da própria consciência, Só assim seremos capazes de ver que o sucesso é a capacidade de aprender e seguir em crescimento; que a realização é a satisfação com aquilo que se alcançou; que uma família feliz depende menos de um molde externo, de uma fórmula, e muito mais do afeto, da aceitação e do acolhimento das diferenças; e que o verdadeiro patrimônio é imaterial e tem a ver com o volume de experiências e lições relamente compreendidas que forjaram os resultados de vida.
As graças são o cenário em que estamos, seja ele qual for, pois tudo está de acordo com o fluxo mais correto, O mérito são as lentes que desenvolvemos para ver melhor o cenário e reconhecer as oportunidades que este nos oferece. Apesar de as graças já estarem todas disponíveis, a vida de cada um não está definida, nem determinada, pois é no mérito que fazemos a grande diferença da caminhada.
Abrir os olhos da percepção é a grande tarefa. Tudo já está dado e disponível, mas se não somos capazes de enxergar, como poderemos usufruir de tantas graças? O primeiro e mais importante passo já demos - nascemos. Agora é preciso fazer o parto da consciência, dar luz a uma nova forma de ver e viver. Não há cegueira maior que aquela que nos impingimos pelo bloqueio da percepção.
Há um tempo para tudo na vida. Para nascer, para crescer, para ecolher, para fazer. É tempo, agora, de despertar. Abrir os olhos e, verdadeiramente, enxergar-se, perceber o que cabe a cada um realizar, transformar, refazer, abrir mão, conquistar. É tempo de Ser, e só podemos Ser experimentando a vida e desenvolvendo a própria consciência.

(Dulce Magalhães, Ph.D. - Manual da Disciplina para Indisciplinados)

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