Com a aproximação do final de um ano, costumamos desperdiçar energias, colocando-nos na "obrigação" de, com o início de um novo ano, tornar nossas vidas, realmente, novas. O desperdício de energias se dá, justamente, porque procuramos a nova vida, onde ela não está, ou seja, fora de nós.
Ingenuamente, imaginamos que a virada do ano acrescentará experiências felizes às nossas vidas, pelo simples fato de o calendário ter reiniciado, mas a vida segue seu rumo e suas leis irrevogáveis, independentemente da nossa imaginação mais ou menos fértil.
Buscar a adequação das nossas experiências, ao ditado popular: "Ano Novo, Vida Nova!", passa longe desta forma, porque não dizer, "acomodada", de encarar o "Novo Ano".
As mudanças necessárias para uma vida um pouco mais feliz, não iniciam com a aquisição de roupas desta ou daquela cor, não dependem do número de ondas que pularmos, ou até mesmo da quantidade de lentilha que comermos na ceia.
As mudanças partem, sim, do nosso olhar honesto para nós mesmos, identificando condutas, pensamentos e sentimentos, que não se encaixam com a vida que pretendemos para nós.
Iniciam com a compaixão, para com o nosso irmão mais próximo, seja aquele a quem mais amamos, ou aquele que ainda não amamos. Tenhamos a certeza, independente da nossa vontade atual, que o amor a eles será só uma questão de tempo, pois jamais alcançaremos a verdadeira felicidade, enquanto houver um só irmão nosso, vivendo infeliz, porque todos somos um.
Teremos um início de mudança, quando o nosso olhar honesto for dirigido para o nosso interior e percebermos que aquilo que é realmente importante na nossa vida e para a verdadeira felicidade, não está nas prateleiras das lojas e supermercados, nem em nossa conta bancária e que nada disso substitui o amor que deveríamos sentir, por nós mesmos, por nossos amigos, por aqueles que não consideramos tão amigos assim, por nossos irmãos "de sangue", por aqueles que não são "de sangue" e por Deus, acima de tudo, mas acima de tudo, mesmo!
Assistiríamos, impressionados, nossas vidas se tornarem novas de verdade, pela continuidade na prática de nos colocar no lugar do próximo, mais próximo, pelo exercício da entrega, não só de dinheiro, comida ou roupas, mas a entrega de um pouco do nosso tempo que seja, de nossa atenção, de nossos melhores sentimentos, a quem estiver necessitado. Poderíamos experimentar, quem sabe, a entrega daquilo que for importante para nós, em determinado momento.
O exercício da entrega poderia ser estendido, também, ao que se apresentar para nós, seja bom ou ruim, fácil ou difícil de encarar, sempre com o entendimento sereno, de que a felicidade virá, quando voltarmos nossas energias, para o que é, de fato, importante. O agir desta forma, sem dúvida, nos impulsionaria para uma existência mais elevada - mais próxima da verdadeira felicidade - e de acordo com a condição de filhos de Deus, o Criador de todas as coisas.
Assim, desejo o início de uma verdadeira vida nova, a todos nós e que ela tenha por pilares, os Ensinamentos do Cristo.
Uma nova forma de viver a vida, que é eterna, no sentido bíblico do termo, o que nos possibilita começar hoje, a construir, de forma efetiva, um novo amanhã, mesmo que esse amanhã não seja, exatamente, o dia seguinte.
Estejamos certos de que o direcionamento de todas as nossas energias, ao exercício diuturno do amor, ocasionará a interrupção do ciclo: "Ano Novo, Mesma Vida!", que gera tanta desesperança, tanta mágoa, tanto desamor!
Ao romper do Novo Ano, digamos em um só pensamento: Senhor, o meu compromisso é contigo e com teus ensinamentos imutáveis ao longo dos milênios, mas que até hoje não consigo praticar. Me ajuda, Senhor, a romper os grilhões da ignorância, que me atrelam a um mundo ao qual não pertenço e que me arrastam para a infelicidade, ao longo de séculos de existência, espírito imortal que sou. Que este Novo Ano represente para mim, o efetivo início da prática do amor, através da caridade, do perdão a mim mesmo e aos irmãos. Que a certeza de que tudo está como deveria estar, deite raízes fortes em meu coração, me preparando, para que um dia eu possa dizer do fundo da minha alma: Senhor, seja sempre feita a tua vontade, pois tu sabes o que tu fazes, não a minha, que nem consciência tenho, da minha condição de filho de Deus, espírito imortal. Por fim, que eu tenha a certeza inabalável em meu coração, que o único verdadeiro bem que temos é o amor, pois nada, nem a morte o destrói e que eu seja capaz de reconhecê-lo, quando ele se apresentar.
Feliz Vida Nova para todos nós, encarnados e desencarnados, e um ótimo exercício de renovação!
Um comentário:
Agnes,
Na minha infância, meu tio comprou uma fazenda. O cara que lhe vendeu alertou: "Não mande embora o velho Simão. E lhe dê mantimentos e fumo de rolo. Se ele sai pra ir à cidade fazer compras, as vacas ficam ariscas e é impossível ordenhá-las."
Simão, dizia-se, nunca estudou, era filho de escravos e tinha quase 100 anos. Saía todo dia cedinho pra pescar num riacho que cortava a fazenda, voltava pro almoço lá pelas 10 horas e passava o resto do dia sentado na porta do casebre em que morava, só pitando cachimbo.
Meu tio não acreditou na história, e resolveu ir até a cidade levando com ele o velho. Quando voltou, encontrou o retireiro (ordenhador) e outros empregados desesperados, tentando, em vão, fazer as vacas entrarem no curral. Bastou Simão descer do carro e se aproximar do pasto para que as vacas leiteiras entrassem docilmente no curral.
Meu tio perguntou ao velho porque isso acontecia, e ouviu:
"Nhô bate na porta quando quer entrar. Pra sair, num precisa."
Todo mundo achava que Simão era doido. Eu mesma passei muito tempo pensando assim. Quando ele morreu, eu já tinha 23 anos e, ao me lembrar dessa história, concluí que a "loucura" dele era pura sabedoria, um saber que vem da intuição e que independe de grau de instrução.
Acho que Simão renovava-se permanentemente, no exercício inconsciente de uma vida plena, sempre em sintonia com o mundo que o cercava.
Beijos
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