"[...] Da mesma maneira, no campo teórico também é preciso esperar pelo momento certo, e mesmo uma grande inteligência não é capaz de pensar por si mesma a todo o momento. Por isso, faz bem em dedicar o tempo restante à leitura, que constitui, como já foi dito, um substituto para o pensamento próprio e alimenta o espírito com materiais, à medida que um outro pensa por nós, embora o faça sempre de um modo que não é nosso. É justamente por isso que não se deve ler demais, para que o espírito não se acostume com a substituição e desaprenda a pensar, ou seja, para que ele não se acostume com trilhas já percorridas e para que o passo do pensamento alheio não provoque uma estranheza em relação a nosso próprio modo de andar. Mais do que tudo, deve-se evitar o perigo de perder completamente a visão do mundo real por causa da leitura, uma vez que o estímulo e a disposição para o pensamento próprio se encontram com muito mais frequência nessa visão do que na leitura. Pois o que é percebido, o que é real, em sua originalidade e força, constitui o objeto natural do espírito pensante e é capaz, com mais facilidade, de comovê-lo profundamente.
Após essas considerações, não nos espantará o fato de aquele que pensa por si mesmo e o filósofo livresco serem facilmente reconhecíveis já pela maneira como expõem suas idéias. O primeiro pela marca da seriedade, do caráter direto e da originalidade, pela autenticidade de todos os seus pensamentos e expressões; o segundo, em comparação, pelo fato de que tudo nele é de segunda mão. Trata-se de conceitos emprestados, de toda uma tralha reunida, material gasto e surrado, como a reprodução de uma reprodução. E seu estilo, constituído por frases banais e palavras correntes da moda, é como um pequeno Estado cuja circulação monetária consiste apenas de moedas estrangeiras, porque não cunha a sua própria.
SCHOPENHAUER - Parerga e Paralipomena
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