sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Prece a Deus...

Já não é mais aos homens que me dirijo; é a ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos: se é permitido a frágeis criaturas perdidas na imensidade e imperceptíveis ao resto do Universo ousar pedir-te alguma coisa, a ti que já lhes deste tudo, a ti, cujos decretos são tão imutáveis  como eternos, digna-Te a olhar com piedade os erros inerentes à nossa natureza; que esses não nos tragam calamidades. Tu que absolutamente não nos deste um coração para que nos odiássemos, nem mãos para que nos matássemos, faze com que nos ajudemos mutuamente a suportar os fardos de uma vida penosa e passageira; que as pequenas diferenças entre as vestes que cobrem nossos débeis corpos, entre todas as nossas linguagens insuficientes, entre todos os nossos costumes ridículos, entre todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, entre todas as nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos, porém tão iguais perante os Teus; que todas essas pequenas nuances que distinguem entre si os átomos chamados homens não sejam mais motivos de ódio e de perseguição; que esses que acendem círios à luz do meio-dia para Te celebrar suportem aqueles que se contentam com a luz de Teu sol; que esse que cobrem suas vestes com uma tolha branca para dizer que é preciso Te amar não detestem os que dizem o mesmo quando usam um manto de lã negra; que seja a mesma coisa Te adorar em um jargão derivado de uma antiga língua ou em um dialeto mais moderno; que esses cujas vestes são tintas de vermelho ou de roxo e que dominam uma pequena parcela de um pequeno fragmento da lama deste mundo e que possuem alguns fragmentos arredondados de um certo metal gozem sem orgulho daquilo que chamam de grandeza e de riquezas e que sejam contemplados pelos outros sem inveja; pois Tu sabes que nessas vaidades não existe nada a ser invejado, nem nada de que se orgulhar.
Que todos os homens possam recordar que são irmãos! Que encarem com horror toda tirania exercida sobre as almas assim como sentem execração pelos salteadores que arrebatam pela força o fruto pacífico do trabalho e da indústria! Se os flagelos da guerra forem inevitáveis, que não nos odiemos, nem nos dilaceremos uns aos outros no seio da paz e empreguemos este instante que é a nossa existência a bendizer igualmente em mil línguas diversas, do Sião à Califórnia, Tua bondade que nos deu este instante.

(Voltaire - Tratado sobre a Tolerância - L&;PM POCKET)

(Que tenhamos todos, realmente, Boas Festas e muitos novos anos pela frente! Que estes novos anos sejam recebidos por nós, com o coração repleto de gratidão pelo grande presente concedido por Deus, que é a oportunidade de estarmos vivos, neste Planeta, aprendendo a lição mais difícil de todas: o amor!)

sábado, 26 de novembro de 2016

Quando o novo bater à sua porta, abra-a!

Você não pode trazer o novo para a sua vida; o novo vem. Você pode aceitá-lo ou rejeitá-lo.


Não há nada que você possa fazer para criar o novo, pois o que quer que faça pertencerá ao velho, será decorrência do passado.Mas isso não significa que você tenha que parar de agir. É agir sem desejo ou direção ou impulso vindos do passado - e isso é agir de modo meditativo. Agir espontaneamente. Deixe o momento decidir.
Você não impõe sua decisão, porque a decisão será fruto do passado e ele destruirá o novo. Você age de acordo com o momento, assim como uma criança. Abandone-se completamente ao momento - e você encontrará todos os dias novas aberturas, nova luz, novas introvisões. E essas novas introvisões continuarão a mudar você. O velho não mais subsiste, o velho não o envolve mais como uma névoa. Você é como uma gota de orvalho, fresca e jovem.
Esse é o verdadeiro significado da ressurreição. Se entender isso, você ficará livre da memória - da memória psicológica, quero dizer. A memória é uma coisa morta. A memória não é a verdade nem nunca poderá ser porque a verdade está sempre viva, a verdade é vida; a memória é a persistência daquilo que já não existe mais. É viver em um mundo fantasmagórico que nos limita, é a nossa prisão. Na verdade, esse mundo somos nós. A memória cria o embaraço, o complexo chamado "Eu", o ego. E, naturalmente, essa entidade falsa chamada "Eu" está continuamente com medo da morte. É por isso que você tem medo do novo.
Esse "Eu" é que tem medo, não é você. O ser não tem medo, mas o ego tem, pois ele morre de medo de morrer. O ego é artificial, é arbitrário, é construído. Ele pode se desintegrar a qualquer momento. E, quando o novo entra, surge o medo. O ego fica amedrontado, ele pode se desintegrar. De algum modo ele tem conseguido se manter, tem conseguido se conservar num só pedaço, e agora algo novo aparece - isso vai estilhaçá-lo. Eis porque você não aceita o novo com alegria. O ego não pode aceitar sua própria morte com alegria - como ele pode aceitar sua própria morte com alegria?
A menos que tenha entendido que você não é o ego, você não será capaz de receber o novo. Depois que tiver percebido que o ego é a sua memória do passado e nada mais, que você não é a sua memória, que a memória é só um biocomputador, é uma máquina, um mecanismo, um utilitário, mas que você é mais do que isso... você é consciência, não memória. A memória é um conteúdo da consciência, você é a própria consciência.
Para ser novo, é preciso que você deixe de se identificar com o ego. Depois que faz isso, você já não se importa se ele vai morrer ou viver. Na verdade, você sabe que, se viver ou morrer, ele de qualquer jeito já está morto. Ele é só um mecanismo. Use-o, mas não seja usado por ele. O ego está o tempo todo com medo da morte, pois ele é arbitrário, daí o medo. Ele não surge do ser; não pode surgir do ser, pois o ser é vida - como a vida pode ter medo da morte? A vida não sabe nada sobre a morte. O ego é fruto do arbitrário, do artificial, de algo que foi construído, do falso, do pseudo. E é justamente esse desapego, justamente essa morte do ego que faz um homem estar vivo. Morrer no ego é nascer para o ser.

(OSHO - Coragem - Editora Cultrix)

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Crenças são coisas emprestadas a confiança é sua

A coisa mais difícil na vida é abandonar o passado - porque abandonar o passado significa abandonar toda a nossa identidade, toda a nossa personalidade. Significa renunciar a si mesmo. Porque você é o seu passado; você não é nada mais do que seus condicionamentos.
Largar o passado não é tão simples como trocar de roupa - na verdade, é como se a sua própria pele estivesse sendo arrancada. O seu passado, é tudo o que você conhece de si. E abandoná-lo não é fácil, é um trabalho árduo - é a coisa mais difícil que existe. Mas somente quem se atreve a fazer isso é que vive de verdade. Os demais apenas fingem que vivem, eles simplesmente vão se arrastando de alguma forma por aí. Não tem nenhuma vitalidade, nem poderiam ter. Eles vivem no mínimo, e viver assim é desperdiçar a coisa toda.
O florescimento só acontece quando você vive o seu potencial ao máximo. Deus só se manifesta quando o seu ser e a sua verdade atingem a sua máxima expressão - aí, sim, você começa a sentir a presença do divino.
Quanto mais você desaparece, mais você sente a presença do divino. Mas essa presença só é sentida mais tarde. A primeira condição a ser cumprida é esta: que você desapareça. É uma espécie de morte.
Por isso é tão difícil. Veja bem, os seus condicionamentos estão arraigados de forma muito profunda - desde sempre você vem sendo condicionado; bastou você nascer, e o condicionamento começou. Então, no momento em que você fica um pouco mais alerta, em que começa a se dar conta das coisas, os condicionamentos já se instalaram no âmago do seu ser. Nesse sentido, enquanto você não penetrar no núcleo mais profundo do seu ser - o centro que não foi condicionado, que é anterior aos condicionamentos -, enquanto não recuperar o seu silêncio e a sua inocência, você nunca vai saber realmente quem você é.
Você pode até saber que é hindu, cristão, comunista; pode saber que é indiano, chinês, japonês, e tantas outras coisas - mas tudo isso são apenas condicionamentos que lhe foram impostos.
Você veio ao mundo como um ser profundamente silencioso, puro, inocente. Sua inocência era absoluta.
Meditação significa penetrar nesse núcleo, o centro mais essencial do seu ser. Os praticantes do zen chamam isso de conhecer o seu "rosto original".

(OSHO - Vivendo Perigosamente - A aventura de ser quem você é - Editora Alaúde)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

As três categorias do samsara

1. A semente do samsara: o aturdimento

A semente do samsara é o completo oposto do buda ou despertar do sofrimento: é a ignorância, estupidez, aturdimento básico. O aturdimento é um estado psicológico que todos nós experimentamos; inclui o estado de sonho e o estado de sono. Devido ao aturdimento, estamos constantemente sem rumo, sem saber exatamente o que está acontecendo - que é o oposto da consciência ou de dar-se conta. Não ver, não saber, não ter a experiência do que está acontecendo uma constante ausência de rumo - essa é a semente do samsara.

2. A causa do samsara: a fixação.

A segunda categoria do samsara é a causa. A causa é aferrar-se a conceitos vagos. Isso é o que chamamos "fixação", ou dzinpa, em tibetano. Dzin signifca "agarrar", logo, dzinpa significa "fixação" ou "avareza". Já que não temos uma percepção clara, devemos agarrar-nos à imprecisão e à incerteza. Ao fazer isso, começamos a comportar-nos como uma bola de pingue-pongue, que não possui inteligência alguma, mas segue somente a orientação da raquete. Somos golpeados de cá para lá por nossa fixação, como uma bola de pingue-pongue.

Gostaríamos de expressar-nos quando sentimos que somos sabotados ou não somos reconhecidos - gostaríamos de expor-nos a riscos - mas de novo, somos "pingue-pongueados". Às vezes sentimos que temos tanta responsabilidades que gostaríamos de aposentar-nos e desaparecer, mas novamente nos tornamos uma bola de pingue-pongue. O que quer que façamos, nossas ações não são perfeitamente corretas porque, baseados nesse jogo neurótico, continuamos a ser "pingue-pongueados." Embora possa parecer que a bola de pingue-pongue esteja comandando os jogadores, embora pareça surpreendente que uma bola tão pequena tenha tanto poder para dirigir as ações dos jogadores e até mesmo atrair os espectadores e fazê-los prestar atenção nela enquanto vai de um lado para o outro - na realidade isso não é verdade. A bola de pingue-pongue é apenas uma bola. Ela não possui nenhuma inteligência; funciona apenas por reflexo.

3. O efeito do samsara: o sofrimento

Finalmente, chegamos ao efeito. A semente do samsara é o aturdimento; a causa do samsara é a fixação; o efeito é o sofrimento. Já que temos sido jogados constantemente de um lado para o outro, começamos a sentir vertigem. Como uma bola de pingue-pongue, sentimos muita tontura e todo o corpo dói, tantas vezes fomos golpeados de um lado para o outro. A sensação de dor é enorme. Essa é a definição do samsara.

De acordo com a terceira nobre verdade, estamos prevenindo o samsara, ou causando sua cessação, comportando-nos como sang-gye, ou um buda. Parece que a única maneira de poder identificar-nos, ainda que por um breve instante, com a experiência da budeidade é por meio da experiência da prática da atenção plena e da consciência panorâmica. Essa é a mensagem. Nesse ponto, a cessação não é considerada como cessação pura ou resposta completa - ela é a mensagem de que isso é possível. É possível desenvolver a compreensão. É possível desfazer o aspecto mítico e ficcional da cessação e ter experiência de um lampejo de cessação como uma realidade, embora isso possa ser apenas um lampejo muito curto, muito pequeno.

O primeiro passo é dar-nos conta de que estamos em uma desordem samsárica. Embora as pessoas ouçam isso por muitos anos, elas ainda não reconhecem verdadeiramente que estão sendo golpeadas como uma bola de pingue-pongue. É precisamente por isso que estamos no samsara - porque sabemos o que estamos fazendo, mas ainda assim continuamos a fazê-lo. No entanto, ao sermos uma bola de pingue-pongue, ainda temos brechas durante as quais não a somos. Há brechas nas quais experimentamos alguma outra coisa. De fato, enquanto somos uma bola de pingue-pongue, ocorre constantemente outra experiência: a experiência da consciência panorâmica. Começamos a dar-nos conta do que somos, de quem somos e do que estamos fazendo. Mas essa constatação pode levar ao materialismo espiritual, que é outra forma de fixação - estamos sendo "pingue-pongueados" pela espiritualidade. Contudo, também nos damos conta de que, se não houver velocidade, não haverá fixação; portanto, poderemos transcender o materialismo espiritual.

O que contrasta com o samsara é o nirvana, ou paz. Todavia, nesse ponto não temos nada senão o samsara e pequenos pontos de luz que surgem do meio da escuridão. Nossa primeira alternativa ao samsara é a prática da consciência panorâmica e da atenção plena, que nos transporta pela viagem das quatro nobres verdades. Essa parece ser a única maneira. Temos de retroceder para tornar-nos como o Buda. A terceira nobre verdade é simples: o nirvana é possível. Antes de termos completado a cessação, temos de ter a mensagem de que é possível ter a cessação completa.

É possível ter a experiência de um momento do nirvana, um lampejo de cessação. Foi isso que o Buda ensinou em seu primeiro sermão em Sarnath, quando ministrou os ensinamentos sobre as quatro nobres verdades, repetidos por quatro vezes. O Buda disse que a cessação poderia ser experimentada. Disse que o sofrimento deveria ser conhecido; dever-se-ia renunciar à origem do sofrimentoa cessação do sofrimento deveria ser alcançada; e o caminho deveria ser considerado a verdadeira solução.

(As quatro nobres verdades do Budismo e o caminho da Libertação - Chögyam  Trungpa - Compilado e organizado por Judith L Lief - Cultrix)


Viver consciente - Fazer consciente

Podemos dar muitas voltas ao redor do tema disciplina, mas em qualquer delas chegaremos ao ponto central de tudo, a consciência. A atenção desperta é, por si mesma, uma ação de mudança.

Se prestar atenção em sua respiração neste momento, você irá alterá-la; ou respirará mais lentamente, ou mais profundamente, mas não conseguirá prestar atenção na respiração sem modificá-la, pois esse é um atributo da atenção.

Quando damos atenção a uma pessoa, vamos obter uma visão diferente do momento imediatamente anterior. Quando damos atenção a uma ideia que está sendo apresentada, ela imediatamente ganha contornos dentro de nossa imaginação, e isso é um ato de transformação. Ao darmos atenção a um objeto, reconhecemos qualidades ou valores que o  modificam em nossa percepção.

Quando colocamos nossa atenção em algo estamos produzindo mudanças. Esse é um atributo básico da atenção, que é a prática do viver consciente. Com o simples ato de colocar atenção sobre algo, aquilo já adquirirá contornos novos e estaremos mais conscientes de nossa relação com a pessoa, o objeto, a circunstância ou o comportamento.

Outro atributo da consciência é a compreensão. Quanto mais compreendemos determinado processo, mais o dominamos, mais somos capazes de criar sobre ele e mais diversas são as alternativas de que dispomos para alterá-lo.

A compreensão é fruto do conhecimento. Assim, aprender sobre qualquer tema que nos interesse mudar é a forma de compreender o processo e nos tornarmos hábeis para produzir a mudança.
Se aliarmos a atenção à compreensão, então teremos a consciência, que é por si mesma um processo disciplinador. Se soubermos, compreendermos e colocarmos atenção, então mudaremos, sem que seja necessário sobreesforço, trabalho excessivo ou sacrifícios. Esses caminhos são necessários quando nos falta consciência.

(Dulce Magalhães, PhD - Manual da Disciplina para  Indisciplinados - Editora Saraiva)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

O poder dos pensamentos vacilantes

A ideia do Künjung, a origem do sofrimento, é que ele progride. Quando nos projetamos numa situação ou em um mundo específico, começamos com um deslocamento da atenção muito pequeno e de curtíssima duração; e a partir disso as coisas são aumentadas e exageradas. De acordo com abhidharma,  a ligação entre as ideias pequenas e as grandes é muito importante. Por exemplo, dramas súbitos, tais como assassinar alguém ou criar um caos imenso, começam no nível de conceitos ínfimos e pequeníssimos deslocamentos de atenção. Algo grande está sendo posto em funcionamento a partir de algo muito pequeno. O primeiro pequeno indício de não gostar ou de ser atraído por alguém aumenta rapidamente e no final causa um drama emocional ou psíquico de escala muitíssimo maior. Portanto, no princípio, tudo começa numa escala minúscula e depois se expande. As coisas começam a crescer e expandir-se até que se tornam muito grandes - imensuravelmente grandes, em muitos casos. Nós mesmos podemos experimentar isso. Esses deslocamentos ínfimos de atenção são o que criam as emoções agressivas, a paixão, a ignorância e tudo o mais. embora sejam aparentemente avassaladoras, enormes e grosseiras, essas emoções tem sua origem nas distorções sutis que ocorrem constantemente em nossa mente.
Devido a esse súbito deslocamento de atenção e porque nossa mente é basicamente destreinada, começamos a ter uma sensação de despreocupação a respeito disso tudo. Estamos constantemente à procura de possibilidades de apropriar-nos de alguém, ou de destruir alguém, ou de aliciar alguém para o nosso mundo. A luta acontece o tempo todo. O problema é que não nos relacionamos adequadamente com essa condição enganadora e evasiva. Temos a experiência do surgimento de tais pensamentos agora mesmo, o tempo todo; caso contrário, a segunda nobre verdade não seria verdadeira - ela seria apenas uma teoria. Pessoas que têm praticado meditação e estudado os ensinamentos, que tem se aberto e interessado, podem receber esse padrão. Se somos praticantes , estamos esfolados e sem pele, o que é bom; no entanto, se somos muito maduros, talvez queiramos escapar ou tentar desenvolver uma casca mais grossa. Ser capaz de relacionar-se com as sutilezas das mudanças mentais está associado ao princípio hinayama de prestar atenção, em pequenas doses, a cada atividade que nos dedicamos. Não existe algo como um psicodrama súbito sem nenhuma causa ou efeito. Cada psicodrama que ocorre em nossa mente ou em nossos atos tem sua origem nos pequenos pensamentos vacilantes e nas pequenas oscilações de atenção.

(As 4 Nobres Verdades do Budismo e o Caminho da Libertação - Chögyam Trungpa - Cultrix)


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A vida é sempre ao ar livre

O ego cerca você como um muro. Ele o convence de que, cercando você desse jeito, ele o protegerá. Essa é a sedução do ego. Ele não pára de lhe dizer: "Se eu não estiver lá, você vai ficar desprotegido, vai ficar muito vulnerável, e será muito arriscado. Portanto, deixe-me guardar você, deixe-me cercá-lo."
De fato o ego dá certa proteção, mas esse muro também faz de você um prisioneiro. Existe uma certa proteção, do contrário ninguém iria sofrer as misérias que o ego traz. Existe uma certa proteção, ele protege você do inimigo - mas protege você dos amigos também.
É exatamente como se você fechasse aporta e se escondesse atrás dela, com medo do inimigo. Então chega um amigo, mas a porta está fechada, ele não pode entrar. Se você tiver muito medo do inimigo,  o amigo também não poderá chegar até você. E, se abrir a porta para ele, existe o risco de que o inimigo também entre.
É preciso pensar nisso profundamente; trata-se de um dos maiores problemas da vida. E só algumas poucas pessoas corajosas o enfrentam da forma correta; as outras se acovardam e se escondem, levando a perder toda a vida delas.
A vida é arriscada, a morte não oferece riscos. Morra e os problemas se acabarão para você e ninguém mais vai matá-lo, porque como é que alguém poderá matá-lo se você já está morto? Entre numa cova e ponha um fim na questão! Então não haverá mais doença, nem preocupação, nem problema - você estará livre de todos os problemas.
Mas, se você estiver vivo, então haverá um milhão de problemas. Quanto mais viva a pessoa estiver, mais problemas ela terá. Mas não há nada de errado nisso, porque lutar com os problemas, enfrentar desafios é a forma pela qual crescemos.
O ego é um muro sutil em torno de você. Ele não deixa que ninguém o invada. Você se sente protegido, seguro, mas essa segurança é como a morte. É a segurança da planta dentro da semente. A planta tem medo de germinar porque, vai saber - o mundo é tão perigoso e a planta será tão delicada, tão frágil. Por trás dos muros da semente, escondida dentro da cela, tudo é protegido.
Ou pense numa criancinha no útero da mãe. Tudo está ali, qualquer coisa de que a criança precise é imediatamente providenciado. Não existe preocupação, luta ou futuro. A criança simplesmente vive sua bem-aventurança. Todas as necessidades são preenchidas pela mãe.
Mas você gostaria de ficar a vida toda no útero da mãe? É um lugar bem protegido. Se lhe fosse dada a chance, você optaria por ficar ali para sempre? É muito confortável; o que poderia ser mais confortável do que isso? Os cientistas dizem que ainda não fomos capazes de criar uma situação mais confortável do que o útero materno. O útero parece ser o máximo em conforto. Tão confortável - sem preocupação, sem problemas, sem precisar trabalhar. Uma vida simples. E tudo é fornecido automaticamente - surge a necessidade e na mesma hora ela é atendida. Não há sequer o incômodo de respirar - a mãe respira pela criança. Não é preciso se incomodar com a comida - a mãe se alimenta pela criança.
Mas você gostaria de ficar para sempre no útero materno? É confortável, mas não é vida. A vida é sempre ao ar livre. A vida é lá fora.
A palavra êxtase é muito significativa. Significa ficar fora. Êxtase significa sair - sair de todas as conchas e de todas as proteções e de todos os egos e de todos os confortos, de todos os muros que se assemelhem à morte. Estar em êxtase significa sair, ficar livre, estar em movimento, ser um processo, ser vulnerável a ponto de os ventos poderem vir e passar por você.
Em inglês, existe uma expressão; às vezes se diz. "That experience was outstanding". É exatamente esse o significado do êxtase: outstanding, literalmente, "estar fora".
Quando a semente germina e a luz escondida ali dentro começa a se manifestar, quando uma criança nasce e deixa o útero, deixa todos os confortos e todas as conveniências, ela vai ao encontro do mundo desconhecido - é o êxtase. Quando o pássaro quebra o ovo e voa para o céu, é o êxtase.
O ego é o ovo, e você terá que sair dele. Seja extasiante! Deixe de lado todas as proteções, conchas e seguranças. Só então você alcançará o mundo mais amplo, a vastidão, o infinito. Só então você viverá, e viverá com abundância.
Mas o medo o deixa aleijado. A criança, antes de sair do útero, provavelmente também hesita em sair ou não do útero. Ser ou não ser? Ela dá um passo para frente e outro para trás. Talvez por isso a mãe sinta tanta dor. A criança hesita, ela ainda não está totalmente pronta para ficar extasiada. O passado a puxa para trás, o futuro a impele para a frente, e a criança fica dividida.
Esse é o muro da indecisão, do apego ao passado, do apego ao ego. E você o carrega por todo lugar. Às vezes, em raros momentos, quando está muito vivo e alerta, você é capaz de perceber esse muro. Mas, na maior parte do tempo, embora seja um muro bem transparente, você não consegue enxergá-lo. Pode-se viver a vida toda - e não apenas uma, mas muitas - sem tomar consciência de que se está vivendo dentro de uma cela, sem saída para lugar nenhum, sem janelas, o que Leibnitz costumava chamar de "mônada". Sem portas, sem janelas, só fechado ali dentro - embora se trate de um muro de vidro, transparente.
Esse ego tem de ser deixado para trás. É preciso reunir coragem e deixá-lo espatifar no chão. As pessoas continuam alimentando-o de mil formas diferentes, sem saber que estão criando um inferno particular.
A sra. Cochrane estava em pé ao lado do caixão do marido.
O filho deles, ao lado dela. Parentes e amigos passavam, um a um, examinando o morto.
- Ele não sente mais dor agora, comentou a sra. Croy.
- Do que ele morreu?
- Pobre homem - disse a sra. Cochrane -, morreu de gonorreia!
Outra mulher fitou o corpo.
- Já está livre da doença agora. Há um sorriso sereno estampado no rosto dele. Do que morreu?
- Morreu de gonorreia, repetiu a viúva.
De repente o filho puxou a mãe de lado:
- Mãe, não diga isso de papai. Ele não morreu de gonorreia. Morreu de diarreia!
- Sei disso! - retrucou a sra. Cochrane. - Mas prefiro que pensem que ele morreu como um homem de verdade, não como a porcaria que era!
Até o fim, as pessoas continuam a fazer joguinhos.
O ego não deixa que elas sejam verdadeiras; ele as obriga a serem falsas. O ego é mentiroso, mas é a pessoa que tem de decidir. É preciso grande coragem porque, com ele, também será destruído tudo o que você tem acalentado até hoje. Todo o seu passado será aniquilado. Com ele, você será totalmente aniquilado. Haverá alguém ali, mas você não será essa pessoa. Uma entidade diferente emergirá de dentro de você - renovada, não-corrompida pelo passado. Então não haverá mais muro; independentemente do que você será, você poderá vislumbrar o infinito sem fronteiras.
O velho, ao entrar no seu botequim favorito, descobriu que a garçonete de sempre havia sido trocada por outra que ele não conhecia. Surpreendeu-se a princípio, mas depois disse galantemente à moça que há muito tempo ele não via uma garota tão atraente como ela.
A nova garçonete. um tipo meio arrogante, olhou-o com desdém e respondeu com aspereza:
- Sinto não poder dizer o mesmo.
- Ah, bem, minha cara - respondeu o velho placidamente - Você não poderia ter feito como eu? Ter simplesmente mentido?
Todas as formalidades dos seres humanos não fazem nada mais do que ajudar o ego uns dos outros. São mentiras. Você diz alguma coisa a alguém e essa pessoa retribui o cumprimento. Nem você nem a outra pessoa são verdadeiros. Continuamos com joguinhos: etiqueta, formalidades, rostos e máscaras civilizadas.
Então você terá de olhar  para o muro. E, pouco a  pouco, ele vai ficar tão espesso que você  não vai mais conseguir ver nada. O muro vai ficando mais e mais espesso a cada dia - portanto, não espere. Se você começou a sentir que ergueu um muro em torno de si, derrube-o! Pule para fora! Basta que decida transpô-lo, nada mais. Então a partir de amanhã não o alimente mais. E, cada vez que perceber que o está cultivando, pare. Dentro de alguns dias, você verá que ele morreu, pois precisa do seu apoio constante, precisa do seu apoio constante, precisa ser alimentado em seu seio.

(CORAGEM - O prazer de viver perigosamente - Cultrix - OSHO)

O que quer que você faça a vida é um mistério

A mente tem certa dificuldade para aceitar a ideia de que existe algo que não seja explicável. A mente tem um anseio urgente de que tudo seja explicado...se não explicado, pelo menos justificado! Qualquer coisa que seja um enigma, um paradoxo, deixará a mente atormentada.
Toda a história da filosofia, da religião, da ciência, da matemática, tem a mesma raiz, a mesma mente - o mesmo comichão. Você pode se coçar de uma maneira, outra pessoa de outra, mas o comichão tem de ser entendido. O comichão é a crença de que a existência não é um mistério. A mente só consegue se sentir em casa se a existência for de alguma forma desmistificada.
A religião fez isso criando Deus, o Espírito Santo, o Filho Bem Amado; cada religião criou uma coisa diferente. Essa maneira que encontraram para tapar o buraco que não é possível tapar; o que quer que você faça, o buraco estará lá. O seu esforço para tapá-lo mostra o medo que você tem de que alguém vá ver o buraco.
Toda a história da mente, em suas diferentes ramificações, tem sido fazer uma colcha de retalhos para esconder esse buraco - principalmente na matemática, porque a matemática é  puramente um jogo mental. Existem matemáticos que não concordam com isso, assim como existem teólogos que acham que Deus é uma realidade. Deus é só uma ideia. E, se os cavalos tivessem ideias, Deus seria um cavalo. Você pode ter certeza absoluta de que ele não seria um homem, porque o homem tem sido tão cruel com os cavalhos que ele só pode ser concebido como um demônio, não como Deus. Mas então todo o animal teria uma ideia própria do que seria Deus, assim como cada raça humana tem a sua própria ideia de Deus.
As ideias servem como substitutos quando a vida é um mistério e você encontra lacunas que não podem ser  preenchidas pela realidade. Você preenche essas lacunas com ideias; e pelo menos começa a sentir satisfação pelo fato de a vida poder ser entendida.
Você já parou para pensar na palavra entender? Significa ficar abaixo de você. É estranho que essa palavra tenha pouco a pouco adquirido um significado tão distante da ideia original: qualquer coisa que você possa  por abaixo de você, que esteja sob os seus pés, sob o seu poder, sob o seu sapato, é algo com relação ao qual você pode se considerar mestre.
As pessoas tem tentado entender a vida dessa maneira, de modo que possam colocá-las sob os pés e declarar: "Somos mestres, agora já não há nada que não possamos entender."
Mas isso é impossível. O que quer que você faça, a vida é um mistério e vai continuar sendo um mistério.
EM TODO LUGAR, EXISTE ALGO QUE ESTÁ ALÉM. Estamos cercados pelo além. Esse além é Deus; esse além tem de ser desbravado. Ele está dentro, está fora; está sempre ali. E, se você se esquecer disso...  como costumamos fazer, porque é muito desconfortável, inconveniente, olhar além. É como se estivéssemos olhando para dentro de um abismo e começássemos a tremer, a sentir vertigem. A própria consciência do abismo faz com que você comece a tremer. Ninguém olha no fundo de um abismo; seguimos caminho mantendo os olhos em outra direção; seguimos caminho evitando o real. O real é como um abismo, porque o real é um grande vazio. É um céu imenso sem fronteiras. Buda disse: Durangama - esteja pronto para ir além. Nunca fique confinado  por fronteiras; ultrapasse-as sempre. Estabeleça fronteiras se precisar delas, mas lembre-se sempre de que você tem que cruzá-las. Nunca crie prisões.
Nós criamos muitos tipos de prisão: relacionamentos, crenças, religião - tudo isso é prisão. Sentimos aconchego porque não há ventos fortes soprando. Sentimo-nos protegidos - embora essa proteção seja falsa, pois a morte virá e nos levará para o além. Antes que a morte venha e leve você para o além, siga para lá por conta própria.
Uma história:
Um monge zen estava à beira da morte. Era muito velho, tinha noventa anos. De repente ele abriu os olhos e disse:
- Onde estão os meus sapatos?
- Aonde o senhor vai? - perguntou o discípulo. - Ficou louco? O senhor está morrendo e o médico disse que não há mais nenhuma possibilidade de salvá-lo; só restam uns poucos minutos.
- É por isso que estou procurando os meus sapatos - respondeu o monge. - Eu gostaria de ir ao cemitério porque não quero ser levado para lá. Irei andando com minhas próprias pernas e lá encontrarei a morte. Não quero ser levado. E você me conhece - eu nunca me apoiei em ninguém. Será uma cena muito feia, quatro pessoas me carregando. Não.
O monge andou até o cemitério. Não só andou até lá como cavou sua própria cova, deitou-se nela e morreu. Que coragem de aceitar o desconhecido, que coragem de seguir por si mesmo e dar as boas-vindas ao além! Assim a morte é transformada; ela deixa de ser morte.
Um homem corajoso como esse nunca morre; a morte é derrotada. Um homem corajoso como esse transcende a morte. Para aquele que segue para o além com as próprias pernas, o além nunca é como a morte. Então o além passa a ser bem-vindo. Se você dá as boas-vindas ao além, ele também lhe dá as boas-vindas; o além sempre imita você.

(CORAGEM - O prazer de viver perigosamente - OSHO - Cultrix)

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Tome cuidado com o conhecimento

Erudição  é algo muito fácil de se conseguir. Os textos sagrados estão aí, as bibliotecas estão aí, as universidades estão aí; é muito fácil tornar-se uma pessoa erudita. Acontece que, ao acumular conhecimento, você acaba se colocando numa situação bastante delicada, pois o ego logo vai acreditar que se trata de seu conhecimento - aliás, não apenas de conhecimento, mas que se trata de sua sabedoria. O ego vai querer transformar aquilo que é mero conhecimento em sabedoria. E logo você começará a acreditar que já sabe.
Mas você não sabe nada. Você sabe apenas aquilo que leu nos livros. E é bem provável que esses livros tenham sido escritos por pessoas iguaizinhas a você. Na verdade, 99 por cento dos livros são escritos por pessoas cujo conhecimento provém unicamente dos livros, e não da experiência. Resultado: se você ler dez livros, sua mente ficará tão cheia de bobagens que será preciso que você escreva um novo livro só para conseguir se livrar delas. Afinal, o que você faria com isso? você tem que encontrar alguma forma de se desfazer de toda essa tralha.
Fui professor em duas universidades, e pude observar centenas de outros professores universitários. É o tipo de gente mais esnobe que existe no mundo. O professor enxerga a si mesmo como se fosse parte de uma espécie diferenciada, pois ela sabe. E o que ele sabe? Apenas palavras; e palavras não são experiência. Você pode repetir a palavra "amor" um milhão de vezes, amor, amor, amor... e, mesmo assim, não vai experienciar o que é o amor. Você também pode ler inúmeros livros sobre o amor; há milhares de livros assim: romances, poesias, contos, tratados, teses. E qual será o resultado? Você chegará a conhecer tantas coisas sobre o amor que, talvez, se esqueça inteiramente de que você mesmo nunca amou, de que, na realidade, não sabe nada em matéria de amor.
Assim, o meu terceiro pedido é este: tome muito cuidado com o conhecimento. Esteja muito atento para que, sempre que quiser, você possa colocar o seu conhecimento de lado, de modo que ele não bloqueie a sua visão, que não se interponha entre você e a realidade. É preciso que você esteja completamente nu ao lidar com a realidade. Quando há tantos livros se interpondo entre você e a realidade, aquilo que você vê nunca será, de fato, o real - já estará tão distorcido pelos livros que, no momento em que chegar até você, talvez já não tenha a menor conexão com a realidade em si.

(OSHO - Vivendo Perigosamente - A aventura de ser quem você é)

Crie seu próprio caminho

Sócrates afirmava que uma pessoa não pode trilhar um caminho feito por outros. É preciso que você crie sua própria senda - e, para isso, primeiramente você deve caminhar. É o contrário dessa noção de que as estradas estão aí prontas e disponíveis para você, sendo preciso apenas seguir por elas - a vida não é assim. A estrada é criada à medida que se anda; você cria seu próprio caminho justamente ao caminhar. E lembre-se: ele é só para você, e para mais ninguém. É como acontece com os pássaros que voam pelo céu e não deixam nenhum rastro para que outros possam segui-los. O céu permanece sempre limpo. Qualquer pássaro pode voar, sim, mas terá que criar a sua própria rota.

(OSHO - Vivendo Perigosamente - A aventura de ser quem você é)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Love yourself - No dreams, No change

Look in the mirror. Take a moment to appreciate the person looking back at you. The small things that define you as an individual are precious. Everybody has something to give to the world, everyone deserves to be appreciated for who they are.
You are unique, you are special: Love yourself!
Be inspired by your ability to dream. Because whatever we have now was once a dream. 

(United Colors of Benetton - United Dreams)

sábado, 22 de outubro de 2016

Perfeição e totalidade

Todo meu ensinamento é orientado em direção à totalidade. Eu digo "seja inteiro", e não "seja perfeito". E a diferença é gigantesca. Quando digo "seja inteiro", significa que aceito as suas contradições, aceito que você seja inteiramente contraditório.
Quando digo "seja inteiro", não estou lhe dando uma meta, um critério ou um ideal; não quero criar nenhuma ansiedade em você. Simplesmente quero que, onde quer que você esteja nesse momento, seja você quem for e o que estiver fazendo, que o faça com inteireza. Se está triste, fique realmente triste; se está bravo, fique realmente bravo - isso é ser inteiro. Mergulhe de forma total no que estiver vivendo.
A ideia de perfeição é diferente; na verdade, mais que diferente, é algo diametralmente oposto. Os perfeccionistas dirão: "Nunca fique bravo; sempre tenha compaixão. Nunca fique triste; seja sempre feliz." Eles escolhem uma polaridade em detrimento da outra. Já no estado de totalidade, nós aceitamos as duas polaridades: os altos e os baixos, as subidas e as descidas.

Totalidade é plenitude.

(OSHO - Vivendo perigosamente. A aventura de ser quem você é)

Dica do dia


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Relaxe em seu próprio ser, independentemente de quem você seja. Não se imponha nenhum ideal. Não enlouqueça  a si mesmo; não há necessidade disso. Apenas seja - renuncie a essa necessidade de tornar-se algo. Não estamos indo a lugar nenhum, simplesmente estamos aqui. E este é um momento tão bonito, é uma bênção tão grande; não traga nenhum futuro para dentro dele, pois isso iria arruiná-lo. O futuro é venenoso. Apenas relaxe e desfrute. Se eu puder ajudá-lo a relaxar e a desfrutar, minha missão estará cumprida. Se puder ajudá-lo a descartar seus ideais, a abandonar todas as ideias a respeito de como você deveria ou não deveria ser; se eu conseguir tirar todos os mandamentos que lhe foram impostos, terei cumprido minha missão. Quando você está livre de qualquer mandamento, quando vive intuitivamente - de forma natural, espontânea, simples - , acontece uma grande celebração, pois, finalmente, você está em casa.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Que bravura há em destruir?

Havia um homem praticamente louco, um louco assassino. Ele fez o juramento de que mataria mil pessoas, e não menos do que isso, por que a sociedade não o tratava bem. Ele se vingaria matando mil pessoas, e de cada pessoa assassinada ele tiraria um dedo e faria um rosário de dedos em volta do pescoço, um rosário de mil dedos.

Ele matou 999 pessoas. Ninguém ia para onde ele estava; quando as pessoas ficavam sabendo onde ele estava, o tráfego deixava de ir para aquela direção. E assim ficou muito difícil para ele encontrar uma pessoa, e apenas mais uma pessoa era necessária.

Buda estava seguindo na direção de uma floresta, mas pessoas da vila se aproximaram dele e disseram: "Não vá! Angulimala está lá, aquele louco assassino! Ele não pensa duas vezes e simplesmente mata, e ele não levará em consideração o fato de que você é um buda. Não vá por esse caminho; há outro caminho e você pode ir por ele, mas não passe por essa floresta!"

Buda replicou: "Se eu não for, quem irá? E ele está esperando por mais um, então preciso ir."

Angulimala tinha quase cumprido seu juramento e era um homem cheio de energia, porque estava lutando contra toda a sociedade. Ele matou sozinho quase mil pessoas. Reis tinham medo dele, generais tinham medo, o governo, a justiça, os policiais... ninguém podia fazer nada. Mas Buda disse: "Ele é uma pessoa e precisa de mim. Preciso correr o risco: ou ele me matará ou eu o matarei."

É isto que os Budas fazem: arriscam a própria vida. Buda foi, e mesmo os discípulos mais íntimos que juraram permanecer com ele até o final começaram a ficar para trás, pois era perigoso! Assim, quando Buda chegou à colina onde Angulimala estava sentado sobre uma pedra, não havia ninguém atrás dele; ele estava sozinho, pois todos os discípulos haviam desaparecido. Angulimala olhou para aquele homem inocente como uma criança, tão belo, e pensou que mesmo um assassino sentia compaixão por ele. Ele imaginou: "Esse homem parece não saber que estou aqui, porque ninguém vem por esse caminho". E o homem parecia tão inocente, tão belo, que até mesmo Angulimala pensou: "É melhor não matar esse homem. Eu o deixarei ir; posso encontrar outra pessoa.

Então ele disse a Buda: "Volte! Pare aí mesmo e volte! Não dê mais nenhum passo! Sou Angulimala, e aqui estão 999 dedos; só preciso de mais um, e mesmo se minha mãe vier, eu a matarei e cumprirei meu juramento! Então não se aproxime, sou perigoso! E não acredito em religião, não importa quem você é. Você pode ser um monge muito bom, talvez um grande santo, mas não me importo! Eu me importo só com o dedo, e seu dedo é tão bom quanto o de qualquer outra pessoa; então não se aproxime nem mais um passo, senão o matarei. Pare!" Mas Buda continuou a se aproximar.

Então Angulimala pensou: "ou esse homem é surdo ou é louco!" De novo ele gritou: "Pare! Não se mova!"

Buda disse: "Eu parei há muito tempo, não estou me movendo, Angulimala, você é que está. Parei há muito tempo; todos os movimentos cessaram, porque toda a motivação cessou. Quando não há motivação, como o movimento pode acontecer? Não há objetivo para mim, eu atingi o objetivo; então por que eu deveria me mover? Você é que está se movendo, e lhe digo: pare você!"

Angulimala estava sentado sobre uma pedra e começou a rir; ele disse: "Você é realmente louco! Estou sentado, e você está me dizendo que estou me movendo. E você está  se movendo e diz que está parado. Você realmente é um tolo, um louco ou alguém muito estranho!"

Buda chegou perto e disse: "Ouvi dizer que você precisa de mais um dedo. No que se refere a este corpo, meu objetivo foi alcançado; este corpo é inútil. Quando eu morrer, as pessoas o queimarão e ele não terá utilidade para ninguém. Você poderá usá-lo, seu juramento pode ser cumprido: corte meu dedo e corte minha cabeça. Vim de propósito, porque essa é a última chance para meu corpo ser usado de alguma maneira; do contrário, as pessoas o queimarão".

Angulimala disse: "O que você está dizendo? Eu achava que era o único doido por aqui. E não tente ser esperto, porque sou perigoso e ainda posso matá-lo."
 
Buda disse: "Antes de me matar, faça uma coisa. Satisfaça o desejo de um homem que está para morrer: corte um galho desta árvore." E Angulimala deu um golpe na árvore com a espada e um grande galho caiu. Buda disse: "Apenas mais uma coisa: junte-o novamente à árvore!"

Angulimala disse: "Agora tenho certeza de que você é louco, pois posso cortar, mas não posso unir".
 
Então Buda começou a rir e disse: "Se você pode apenas destruir e não pode criar, não deveria destruir, pois qualquer criança pode destruir, não há nenhuma bravura nisso. Esse galho pode ser cortado por uma criança, mas para uní-lo é necessário um mestre. E se você nem pode unir novamente um galho a uma árvore, como pode cortar a cabeça de um ser humano? Você já pensou nisso?

(Trecho do Livro BUDA - Sua Vida, Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade - OSHO - Editora Cultrix)


SAC da meditação - Mindfulness

Você está com problemas para manter a atenção plena?
Leia aqui:

1. DORMI, E AGORA?

Apesar de comum na fase inicial, adormecer não é o objetivo.

Jogue água fria no rosto, evite mediar tarde da noite e mantenha os olhos abertos durante toda a sessão. Faça o que for preciso para permanecer alerta, como faria ao volante.

2. FICO VIAJANDO

Não adianta ficar com raiva: pensar no churrasco de domingo ou na conta do veterinário é natural e inevitável.

Conduza a atenção de volta à respiração assim que se flagrar vagando, quantas vezes for necessário.

3. NÃO TENHO DISCIPLINA

Os professores recomendam liberar a agenda sempre no mesmo horário, ao menos nas oito primeiras semanas.

Comece com dez minutos, depois 20, até chegar a 40.
Tente fazer sessões de segunda a sábado. Em dois meses, os benefícios serão notórios e a rotina, mais natural.

4. AS COSTAS DOEM

Aprender a aceitar sensações desagradáveis faz parte da meditação, mas ela não precisa ser uma tortura.

Priorize o conforto e sente-se numa cadeira. Pernas de índio valem apenas se sua flexibilidade permitir.

5. NÃO VEJO RESULTADOS

Ter grandes expectativas atrapalha a prática. Você vai, sim, se sentir mais calmo e feliz, os estudos comprovam. Mas focar-se apenas nos resultados impede de prestar atenção no exercício.

(Trecho da Revista Superinteressante - Edição 365 - Setembro/2016)

Informações maiores sobre Mindfulness em:
www.bemindful.co.uk  
www.vivamindfulness.com.br  e,
www.spm-be.pt

Mindfulness - Fatos comprovados

Em 2005, uma equipe liderada pela neurocientista Sara Lazar fez testes de ressonância magnética em um grupo dividido entre meditadores e não meditadores. Pela primeira vez, encontraram diferenças marcantes na estrutura física do cérebro dos dois perfis. Nos meditadores, o córtex pré-frontal tinha mais massa cinzenta, o que indica mais capacidade de memória e tomada de decisões. Além disso, os cinquentenários deste grupo pareciam ter 25 anos de acordo com suas imagens cerebrais. A conclusão foi que a contemplação pode mudar o formato do cérebro como um exercício de halteres muda um músculo. Mas ficou a dúvida: e se essas pessoas já tivessem nascido assim?
Em 2010, então, o laboratório dela fez uma nova pesquisa, dessa vez só com pessoas que nunca haviam meditado na vida. Ao longo de dois meses, metade seguiu sua rotina e a outra iniciou sessões de 40 minutos diários de técnicas de respiração e visualização. Quando as oito semanas acabaram, o hipocampo de quem meditou havia crescido. A área é importante para o aprendizado, a memória e a regulação das emoções e, como ocorre no caso do córtex, um volume maior indica melhora nas funções correspondentes. Mas esse não foi o único achado. A equipe de Lazar, que mantém um laboratório em Harvard, reparou também que uma parte no cérebro dos participantes estava menor.
A amígdala, responsável pela reação de sobrevivência, o clássico "luta ou fuga", havia perdido tamanho após o treino. Mais um bom resultado. Afinal, o acionamento excessivo dessa região gera ansiedade e pode levar a ataques de pânico.
Em 2013, um time de psicólogos da mesma universidade conformou que, além das mudanças neuronais, a meditação podia reforçar comportamentos positivos, como a compaixão. Eles dividiram o grupo entre os que fariam o curso de oito semanas e os que permaneceriam numa lista de espera. Ao final  desse tempo, convocaram todos de volta para um teste de memória, falso. O que observaram mesmo foi o comportamento na sala de espera, onde uma atriz entrava mancando com o pé engessado enquanto outros atores fingiam ignorar seu sofrimento. Aí veio a diferença. Das pessoas que não meditaram, apenas 18% se levantaram para dar o lugar. Entre as que passaram pelo mindfulness, o número foi de 50%. Três vezes mais gentileza.
A técnica também foi colocada à prova com um grupo de desempregados, uma turma naturalmente mais propensa ao stress. Uns meditaram, outros foram enganados com aulas de relaxamento cheias de distrações que quebravam a concentração. Quatro meses depois, o primeiro grupo mantinha índices melhores de bem-estar e saúde em geral.
E desde os anos 2000, psiquiatras tratam pacientes com depressão refratária, a que aparece várias vezes ao longo da vida, com o mindfulness. O médico Mark Williams, do Departamento de Psiquiatria de Oxford, na Inglaterra, foi um dos três responsáveis por mesclar tratamento a quem já teve três ou mais crises intensas. Era a MBCT (em inglês: "terapia cognitiva  baseada em mindfulness"). Nascia assim, mais uma sigla de sucesso: estudos mostraram que ela tem resultados tão bons quanto o uso de remédios. Hoje, o governo do Reino Unido a recomenda como primeira opção na prevenção de novas crises. Se lembrarmos do estudo de Sara Lazar, veremos a relação: pessoas deprimidas costumam ter o hipocampo menor, justamente uma das áreas que aumentam após a meditação.
Na prática manter-se no presente ajuda a combater a espiral de sintomas. Como todo mundo, quem já sofreu de depressão vai ficar triste de vez em quando. "O problema é que a pessoa logo pensa: 'está voltando'", diz a psicóloga Érika, que é coordenadora de pesquisa do Mente Aberta, um programa de extensão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que oferece treinamentos a pacientes do SUS. As sessões ocorrem numa sala de aula do campus Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Sob a luz branca, pacientes seguem as instruções para que observem o que estão sentindo. Às vezes, saem da sala em fila e caminham lentamente, um pouco até de olhos fechados, tentando prestar atenção nas sensações da sola do pé. Às vezes, apenas ficam concentrados contando respirações. Como todas as técnicas do mindfulness, parece um exercício ridículo para quem observa de longe. Mas, para quem o pratica, o hábito só traz vantagens. E pode mudar sua vida para melhor.

(Trecho da Revista Superinteressante - Edição 365 - setembro 2016)

A Parábola do Semeador - Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec

5 - Jesus, ao sair de casa, sentou-se à beira-mar, e uma grande multidão de pessoas reuniu-se ao seu redor. Assim, Ele subiu em um barco, e...